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Tóquio 2020

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07/09/2013 23h55

Jacques Rogge revela a sede da Olimpíada de 2020 (foto: Fabrice Coffrini/Reuters)

Japonês adora uma regra. Isso é o que não falta no Japão. Lá, tem regra para tudo. O que mais se vê são placas e avisos com o que pode e o que não pode. E elas são totalmente obedecidas. Muito dificilmente você verá um japonês atravessando a rua fora da faixa de pedestres ou com o sinal para pedestres no vermelho, mesmo que não haja sinal de carros na rua.

O curioso é que em nenhum dos avisos há qualquer menção a algum tipo de multa ou punição. Em geral, os japoneses sequer sabem se existe. Há um pensamento geral de que se existe uma regra, deve haver uma razão para ela existir, e ela deve ser obedecida. Então para que se preocupar em divulgar multas e punições, se todos vão obedecer?

E este é o ponto. A aceitação geral das regras está relacionada com colocar o conforto de todos acima do conforto individual. É uma sociedade em que o bem comum é mais importante, e tudo funciona na mais perfeita harmonia. Não existe nenhum indício do jeitinho brasileiro. No trânsito, o ruído mais difícil de se ouvir é o de uma buzina. Já pude comprovar que os trens lá são mais pontuais que na Inglaterra ou que na Suíça. As regras são feitas para o bem estar geral, e o mais importante, o japonês entende isso.

Não é de se espantar, portanto, a força da candidatura de Tóquio para sede da Olimpíada de 2020. A mais estruturada, a mais técnica, a mais eficiente dentre as três concorrentes (as outras eram Istambul, na Turquia, e Madri, na Espanha). Não foi surpresa, portanto, a vitória japonesa.

Tóquio já tem grande parte da estrutura. Basicamente 80% do necessário está pronto, entre infra-estrutura, rede hoteleira e locais para competições, aproveitando inclusive o legado dos Jogos de 1964, que também foram realizados lá. O resto, eles têm quase sete anos para providenciar. O que não deverá ser difícil.

O Estádio Olímpico (que passará por uma reforma) e o ginásio Nippon Budokan, sede das provas de judô em 1964, entre outras estruturas, serão utilizados novamente, não havendo necessidade de construção de vários locais de competição. Além disso, a Olimpíada de 2020 será a mais compacta da história, com 28 dos 33 locais de competição localizados a no máximo 8 quilômetros da Vila Olímpica.

Projeto do Centro Aquático que abrigará as provas de natação na Olimpíada de Tóquio em 2020

Na realidade, em 2009, Tóquio foi finalista no processo de candidatura para a sede dos Jogos de 2016, junto com Rio de Janeiro, Madri e Chicago. Também era considerada a melhor tecnicamente. Mas na época prevaleceu a política, com inclusive Lula e Barack Obama tendo papeis centrais no processo de seleção. O Rio de Janeiro venceu e o Japão teve que esperar mais quatro anos. Já havia esperado outros tantos, pois as candidaturas para as Olimpíadas de 1988, com Nagoya, e de 2008, com Osaka, também haviam sido mal sucedidas.

Desta vez, levou com méritos. Talvez merecesse ter vencido há quatro anos, mas há muito mais em jogo do que somente demonstrar ser uma boa sede.

Recentemente, a preparação do Rio de Janeiro para a Olimpíada de 2016 sofreu duras críticas do COI (veja aqui) e mais duras ainda do ex-nadador Alexander Popov, membro do comitê de avaliação (clique aqui para ver sua entrevista). A três anos dos Jogos, os problemas são visíveis.

Tóquio dificilmente passará por isso. O transporte é fora de série e se pode ir a todo lugar de metrô. É uma das cidades mais seguras do mundo, apesar de ser uma metrópole. Não há nenhum perigo em andar de madrugada nas ruas. A cidade é preparada para receber turistas e não há dificuldade para chegar onde se deseja – os ideogramas japoneses assustam, mas há pontos de informações em todos os lugares.

Por esses aspectos de infra-estrutura já presentes em Tóquio e tão precários no Rio de Janeiro, é que a candidatura japonesa apresentou um orçamento de 7,8 bilhões de dólares, um pouco mais da metade do valor apresentado pela cidade brasileira – 14,4 bilhões. O dinheiro será gasto apenas com uma parte das instalações esportivas, pois o restante já está pronto, e com a Vila Olímpica. Certamente o COI não terá dor de cabeça, como vem tendo com o Rio e como também teve com Atenas, na Grécia, em 2004. Afinal, no Japão não existe o jeitinho.

E, além de tudo, os japoneses são apaixonados por esporte. Quem já assistiu as transmissões esportivas, em especial de natação, da TV Asahi deve concordar com isso. Eles não admiram somente atletas japoneses, como também os ídolos internacionais – a reverência a Ian Thorpe por lá no início da década passada chegava a ser descomunal. Ou seja, as grandes estrelas do esporte se sentirão em casa.

Os Jogos do Rio em 2016 são de certa forma uma incógnita. Mas, faltando sete anos, já é possível ter a certeza de que Tóquio será muito bem sucedida na organização da Olimpíada. O espírito japonês é de que o bem estar coletivo é mais importante que o bem estar individual. E, afinal, o que pode ter mais a ver com o espírito olímpico?

Por Daniel Takata

Projeto da Vila Olímpica da Olimpíada de Tóquio. Pela imagem, o Brasil já tem seu prédio definido!

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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