Topo

Histórico

Categorias

Swim Channel

O adeus de Tatiana Lemos

swimchannel

19/12/2013 07h35

O Torneio Open começou ontem em Porto Alegre e encerrará a temporada da natação brasileira. A competição que vale vaga em campeonatos de 2014 será especial para pelo menos uma atleta: Tatiana Lemos. Aos 35 anos de idade, a velocista deixará as piscinas logo após o evento. Após refletir bastante a nadadora decidiu colocar um ponto final na sua carreira competitiva para focar em novos objetivos e desafios.

Tatiana apareceu para o cenário nacional nos anos 90 e assim como suas amigas Fabiola Molina, Michelle Lenhardt e Flávia Delaroli, deixa as piscinas para dar espaço a nova geração da natação feminina. Natação feminina que elas tanto ajudaram a evoluir e desenvolver com seus feitos dentro e fora d'água. Na seleção brasileira principal desde 1997 e com muitas medalhas e recordes conquistados, Tatiana acumula participações nos maiores eventos da natação internacional, como duas Olimpíadas, quatro Campeonatos Mundiais de piscina longa e quatro Jogos Pan-Americanos.

A SWIM CHANNEL conversou com Tatiana que fala um pouco mais da sua carreira e de seus planos para o futuro. Confira abaixo:

Tatiana Lemos

Tatiana Lemos encara o último desafio da carreira – Foto: Satiro Sodré

SWIM CHANNEL: O Open será sua última competição na natação competitiva. O que esta esperando desta competição?
Tatiana Lemos: O Open é minha despedida da Seleção Brasileira e dos principais campeonatos da natação brasileira. Mas tenho um projeto de competir ano que vem defendendo minha cidade que é Brasília. Ainda quero nadar uma competição na cidade. Isso é um projeto antigo meu. Em relação ao Open, o que eu mais espero aqui é aproveitar o momento e me divertir na competição. Estou treinada e pronta pra competir bem, porém, quero aproveitar muito o momento, a energia, as sensações, enfim, é um momento especial pra mim e que também ficará marcado na minha memória e isso está sendo mais importante agora que os próprios resultados aqui.

SC: Como foi a sua programação neste seu último ano de carreira? Você alterou algo na rotina de treinamentos?
Tatiana: Minha programação nesse último ano foi bem diversificada. Comecei treinando em Brasília com o Fábio Costa e depois do meio do ano resolvi experimentar um treinamento diferente e acabei escolhendo o Grêmio Náutico União aqui em Porto Alegre pra fazer isso. Tudo começou com um training camp de duas semanas e gostei tanto que acabei pedindo pra voltar de novo e depois de algumas conversas com meu técnico de Brasília e com o Fred Guariglia do GNU decidi que faria o programa do Fred, que é bem específico para velocistas, até o final do ano. A equipe do GNU me recebeu de braços abertos, tanto os técnicos como os atletas e isso foi muito bacana também.

Com Monique Ferreira, Michelle Lenhardt e Gabriella Silva durante treino nos Jogos Olímpicos de Pequim - Foto: Satiro Sodré

Com Monique Ferreira, Michelle Lenhardt e Gabriella Silva na Olimpíada de Pequim – Foto: Satiro Sodré

SC: Você já planejava deixar as piscinas agora ou pensava em esticar um pouco mais, até 2016, tendo em vista que você ainda esta entre as melhores velocistas do Brasil?
Tatiana: Na verdade, tive um início de ano bem difícil e foi quando comecei a pensar se estava na hora de parar ou se ainda queria continuar nadando. Mas ainda tinha meus motivos pra nadar e fui buscar as melhores condições pra fazer uma boa temporada. A ideia de parar veio me acompanhando durante o ano, mas só tomei a decisão mesmo depois do Finkel (que foi uma competição bem difícil inclusive, pois fiquei com febre por três dias, e no dia dos 100m livre ainda tive uma contratura nas costas no aquecimento da prova e fui da piscina direto para o hospital). O fato de eu ainda estar entre as principais velocistas do Brasil, me fez pensar sim em nadar até os Jogos do Rio, porém, estava cada vez mais difícil me imaginar nessa rotina puxada de atleta por mais dois anos e meio. Comecei a sentir que era hora de me retirar do esporte enquanto eu ainda estava feliz e competitiva. Sempre quis parar quando estivesse num momento bom e eu passei por algumas dificuldades há dois anos atrás que me tiraram a alegria de nadar e de competir e eu queria muito resgatá-las. E esse ano eu consegui resgatar essa alegria e voltar a me sentir bem e a sorrir nos treinos e nas competições e isso foi decisivo pra que eu parasse agora. Estou de bem comigo e com a minha natação!

SC: Você competiu contra diversas nadadoras brasileiras de várias gerações ao longo destes anos. Como você analisa a evolução da natação feminina durante a sua carreira?
Tatiana: É muito legal nadar até mais velha e perceber tantas mudanças e ver tantas coisas acontecerem na natação brasileira e mundial. Acho que a geração que esta vindo agora é muito boa e está tendo oportunidades que a minha geração, por exemplo, não teve. Hoje fazemos análise biomecânica, filmagens, a ciência faz parte do dia a dia dos treinos e a mentalidade das atletas é outra. Os clubes são mais profissionais, os atletas, em geral, são mais valorizados e isso é muito bom para o esporte. Fico feliz te ter feito parte desse esquema também, porém o que a geração de hoje tem desde os 14, 15 anos de idade, a minha foi ter depois dos 25, 30 anos. Ou seja, elas têm a capacidade de se desenvolver mais e melhor desde jovens e isso fará muita diferença na carreira delas. E acho que o fato das nadadoras "mais experientes" como eu, Flávia Delaroli, Fabiola Molina e Michelle Lenhardt terem parado, mais ou menos na mesma época, fez com que as mais novas percebessem que agora é a vez delas, que elas é que vão levar a natação brasileira feminina de agora em diante. E acho isso uma responsabilidade boa e fico feliz de saber que contribui nesse papel servindo a seleção brasileira desde 1997.

O revezamento 4x100m medley no Mundial de Roma -Foto: Satiro Sodré

O revezamento 4x100m medley no Mundial de Roma, um dos momentos marcantes da carreira de Tatiana Lemos -Foto: Satiro Sodré

SC: Após deixar as piscinas quais são seus novos planos e projetos? Vai continuar trabalhando com esporte ou competindo em campeonatos de master?
Tatiana: Essa pergunta é boa, rs. Tenho muitos planos, mas nada decidido ainda. Vou dar uma pausa para pensar exatamente o que quero fazer com calma e sem a cabeça estar na natação. Sou formada em Educação Física e quero trabalhar na minha área, amo esportes e ficarei sempre perto, seja qual for o esporte. Agora competir no master não está nos meus planos não. Minha carreira na natação foi essa aqui e sou muito grata e feliz por ela, e não consigo me ver competindo na natação mais. Mas provavelmente competirei em outros esportes, pois, como disse, amo esportes e não me afastarei deles pessoalmente e nem profissionalmente.

SC: Qual é o momento mais marcante da sua carreira, pode ser uma medalha, prova…qual foi o momento que você jamais vai esquecer?
Tatiana: Essa pergunta é muito difícil porque foram tantos momentos marcantes e escolher apenas um é injusto. Então vou citar alguns em ordem cronológica. A primeira vez que bati o recorde sul-americano dos 100m livre na longa em 1999 foi muito marcante, pois nunca imaginei que um dia seria a nadadora mais rápida da história do Brasil e da América do Sul. Em 2003 perdi esse recorde e fui recuperá-lo de novo em 2008 e ele é meu até hoje. Bati algumas vezes meu próprio recorde nesses anos, mas a última delas foi no Open de 2009. Outro momento foram os Jogos Olímpicos de Pequim, a minha segunda Olimpíada, onde bati o recorde sul-americano em todas as vezes que caí na água e em todas as provas que nadei (100m livre nos duas vezes; abrindo o 4x100m e na prova individual, no 4x100m livre e 4x100m medley) e também pelo crescimento e amadurecimento que tive como atleta nesse ano todo. Foi um ano muito especial e que mudou minha carreira e minha forma de pensar como atleta. E por fim, classificar pra final no Campeonato Mundial de Roma em 2009 com o 4x100m medley (Fabíola Molina, Carolina Mussi, Gabriela Silva e eu) com recorde sul-americano que dura até hoje. Foi uma prova muito especial e de muita superação de nós quatro!

Por Guilherme Freitas

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

Blog Swim Channel