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James Magnussen: o que está faltando?

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04/04/2014 23h44

Teve início há três dias, em Brisbane, o Campeonato Australiano de natação, seletiva para as principais competições internacionais do ano (Jogos da Comunidade Britânica e Pan-Pacífico). Como não poderia deixar de ser, em uma das competições mais fortes do mundo, ótimos resultados vem sendo registrados.

Os campeões mundiais em Barcelona, no ano passado, estão mostrando boa forma. Cate Campbell, atual campeã mundial dos 100m livre, venceu os 50m com 24s18, mas seu 24s13 da semifinal é a melhor marca de sua vida, a apenas oito centésimos da melhor marca da história sem trajes (da holandesa Ranomi Kromowidjojo com 24s05). Christian Sprenger, detentor do título mundial dos 100m peito, venceu sua especialidade com 58s87, apenas oito centésimos acima do tempo que lhe deu o título em Barcelona. E surpreendentemente venceu os 200m com 2min08s63, um tempo que surpreendeu até a ele mesmo, pois vem se dedicando mais à velocidade.

Destaque também para os irmãos David e Emma McKeon. Ele venceu os 400m livre com 3min43s72, melhor tempo do mundo do ano. Ela fez 1min55s68 nos 200m livre e bateu o recorde nacional, com o segundo melhor tempo da temporada. Eles irão representar juntos a Austrália nos Jogos da Comunidade Britânica, mas isso não é novidade para a família: o pai Ron e a mãe Susie, além do tio Rob, competiram na edição de 1982 do campeonato.

Família McKeon: o pai Ron e os irmãos Emma e David, sensações da nataçao australiana (foto: Delly Carr/Sportshoot)

Família McKeon: o pai Ron e os irmãos Emma e David, sensações da nataçao australiana (foto: Delly Carr/Sportshoot)

A prova mais esperada ocorreu hoje: os 100m livre masculino. Simplesmente pela presença de James Magnussen, o nadador mais badalado da Austrália na atualidade. Seu favoritismo era absoluto, afinal é o atual bicampeão mundial, vice olímpico, melhor tempo da história sem trajes e com um tempo de 47s59 feito em fevereiro, sem total polimento, melhor até que o tempo que lhe deu o ouro no Mundial de Barcelona no ano passado.

Mas ele encararia um jovem nadador em franca evolução. Cameron McEvoy, com somente 18 anos, terminou na quarta posição em Barcelona. Anteontem, vencera os 200m livre com 1min45s46, simplesmente o segundo melhor tempo da história do país, atrás somente de Ian Thorpe.

Mesmo assim, a vitória era o mínimo que se esperava de Magnussen. Esperava-se, mesmo, pela forma que apresentou em início de temporada, que abaixasse seu melhor tempo de 47s10 e até ameaçasse o recorde mundial de Cesar Cielo, de 46s91.

Nem um nem outro. O vencedor foi McEvoy com 47s65, o melhor tempo da história para sua idade. Mais um grande nadador de 100m livre que a Austrália produz. Nos últimos anos, eles tiveram Michael Klim, Eamon Sullivan e Magnussen.

James Magnussen e Cameron McEvoy, ao final dos 100m livre (foto: Getty Images)

James Magnussen e Cameron McEvoy, ao final dos 100m livre (foto: Getty Images)

A grande performance de McEvoy não causou espanto. Mas motivo de estranhamento foi o desempenho de Magnussen. Com 47s92, ficou um segundo aquém do que esperava. Não só isso: foi somente seu quinto melhor tempo de 2014. O homem que já nadou abaixo de 48 segundos 18 vezes, mas que em certos momentos simplesmente não produz o que se espera dele.

A irregularidade vem sendo a tônica de Magnussen. Ele experimentou um breve período como o super-homem dos 100m livre, e este foi do Mundial de Xangai, em 2011, até o Campeonato Australiano de 2012. Em Xangai, fez 47s49 e deixou a concorrência muito para trás. No Australiano de 2012, fez o lendário 47s10. Foi quando deixou a impressão de que ele seria inalcançável na prova por algum tempo. Ledo engano.

Na Olimpíada de Londres, favorito absoluto, abriu muito mal o revezamento 4x100m livre no segundo dia de competições, aumentando um segundo de seu tempo e nadando uma prova toda errada. Na final dos 100m livre, melhorou a performance, mas não conseguiu dosar corretamente sua segunda metade de prova, que é seu forte, e mesmo liderando a metros do fim perdeu a prova na chegada por um centésimo.

No Mundial de Barcelona, novamente nadou mal abrindo o revezamento. Se redimiu na prova individual, vencendo, mas não chegou perto de seu melhor tempo.

Desta vez, no Campeonato Australiano, cometeu o erro de tentar acompanhar McEvoy nos primeiros 50 metros: 22s75 x 22s76. Resultado: cansou no final, com uma volta de 25s16. Quem conhece Magnussen sabe que voltar abaixo de 24 segundos é sua marca registrada. Para se ter uma ideia, na semifinal, havia passado para 23s14 e voltado para 24s69, totalizando 47s83. Em fevereiro, quando fez 47s59, passou com 23s05 e voltou com 24s54.

Muitos tem a impressão que um nadador como Magnussen pode forçar o quanto quiser a primeira metade da prova que terá fôlego para voltar. Isso é um equívoco. Até mesmo Ian Thorpe já sofreu com isso, ao tentar acompanhar Pieter Hoogenband nos 200m livre e morrer no final, em Sydney-2000.

Magnussen hoje nadou a prova de forma equivocada, pressionado pelo competidor ao seu lado. Algo que já havia ocorrido outras vezes.

A maturidade é um elemento em comum daqueles grandes nadadores que entraram para a história. Produzir grandes performances é importante, mas em especial nas horas certas e com regularidade. Thorpe aprendeu com a derrota de 2000. Magnussen fará o mesmo daqui para frente?

Por Daniel Takata

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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