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Desafio Piraquê Raia Rápida: Brasil campeão

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15/09/2014 20h17

Como esperado, o III Desafio Piraquê Raia Rápida, realizado ontem no Rio de Janeiro, foi ainda melhor do que no ano passado. Com a presença de campeões olímpicos (o americano Anthony Ervin e os sul-africanos Roland Schoeman e Cameron van der Burgh), campeões mundiais (os brasileiros Felipe França e Nicholas Santos e o sul-africano Gerhard Zandberg, além dos outros três já citados), um campeão olímpico da juventude (Matheus Santana) e outros tantos com grandes conquistas, o evento foi um sucesso. O evento, que tem apoio da SWIM CHANNEL, foi transmitido ao vivo pela Rede Globo dentro do Esporte Espetacular. A cereja do bolo foi a vitória brasileira, a primeira em três anos de competição.

A seguir, um resumo do que de mais importante aconteceu.

Piscina do Botafogo ao amanhecer no dia do evento (foto: Pedro Monteiro)

Piscina do Botafogo ao amanhecer no dia do evento (foto: Pedro Monteiro)

– O tempo, que no ano passado não ajudou (nublado e chuva fina), desta vez foi perfeito. Sem uma nuvem no céu, os cinegrafistas puderam explorar ao máximo a beleza da piscina do Botafogo. Com 26 câmeras, meia dúzia a mais do que no ano passado, a Rede Globo também investiu nos equipamentos com super slow, que produzem aquelas imagens em câmera lenta que até o mais indiferente fica hipotizado em frente à televisão. Câmeras sub-aquáticas e nos blocos de partida deixaram a transmissão com nível de Olimpíada e Campeonato Mundial.

– O sul-africano Gerhard Zandberg nunca teve uma das melhores reações ao tiro de partida em provas de costas, devido a falta de agilidade pela sua estatura (tem 2,04m), mas nesse Raia Rápida sua saída estava ainda mais lenta que o usual. Parte pode ser explicado pelo fato dele não estar treinando muito (divide seu tempo com a função de técnico de natação) e seu reflexo não está apurado, e outra parte para evitar um escorregão na saída na lisa placa da Colorado utilizada na competição. Placa que inclusive gerou muitas reclamações: o australiano Daniel Arnamnart e o americano David Plummer escorregaram na primeira e na segunda baterias dos 50m costas, respectivamente, e acabaram eliminados. Mesmo com a saída lenta, Zandberg derrotou o brasileiro Guilherme Guido na bateria final (25s00 x 25s12).

Gerhard Zandberg e Guilherme Guido. Notem o alto tempo de reação do sul-africano (foto: Zequinha Santos)

Gerhard Zandberg e Guilherme Guido. Notem o alto tempo de reação do sul-africano (foto: Zequinha Santos)

– Cameron van der Burgh, campeão olímpico dos 100m peito, teve sua mala extraviada e precisou competir com o equipamento emprestado do compatriota Giulio Zorzi. Pode ter atrapalhado um pouco, mas mesmo se estivesse com suas vestimentas provavelmente não seria páreo para Felipe França, que com 27s21 colocou meio segundo no sul-africano. Apesar de van der Burgh ter todos os títulos possíveis nos 50m peito, França também tem e não perde do rival na prova desde 2010: vitórias no Mundial de Curta de 2010, Mundial de Longa de 2011 e Raia Rápida 2014.

– O americano Eugene Godsoe destacou que foi no Raia Rápida de 2012, em que ele também nadou os 50m borboleta, que ele viu que essa poderia ser uma boa prova para ele. Resolveu investir e o resultado foi a medalha de prata no Mundial do ano passado, a maior conquista de sua carreira. Na edição de ontem, pelo segundo ano consecutivo, foi derrotado por Nicholas Santos, que teve o melhor resultado da competição: 22s97, o terceiro melhor tempo do mundo no ano, melhor inclusive que o vencedor do Campeonato Mundial do ano passado.

– Após a competição, o americano Anthony Ervin admitiu que tem uma das piores saídas entre os nadadores de elite dos 50m livre. Isso ficou evidente no duelo final contra o sul-africano Roland Schoeman, que para piorar tem uma das melhores saídas do mundo. Na largada, deixou o americano meio corpo atrás. Mas o nado de Ervin compensou a deficiência na saída e ele fez uma prova de recuperação incrível, vencendo com 21s91 contra 22s19. A parte nadada de sua prova é uma das melhores do mundo, e seu melhor tempo de 21s42, no ano passado, o coloca entre os melhores velocistas da atualidade ao lado do francês Florent Manaudou e dos brasileiros Cesar Cielo e Bruno Fratus.

O sul-africano Roland Schoeman (foto: Satiro Sodré)

O sul-africano Roland Schoeman (foto: Satiro Sodré)

– Antes do evento, Felipe França dizia que esperava aproveitar sua habilidade e impulsão na saída para tirar vantagem contra os adversários na troca do revezamento 4x50m medley. Ele relembrou o que fez nos Jogos Pan-Americanos de 2011, quando no revezamento medley tirou uma distância incrível do nadador americano (veja aqui o vídeo, na marca de 3min40s). Foi o que fez novamente: pulou um pouco atrás da África do Sul e dos Estados Unidos, mas tirou a vantagem na saída e continuou abrindo frente, sem se importar se do seu lado estava o campeão olímpico Cameron van der Burgh. Sua parcial: um impressionante 26s76, mesmo depois de ter nadado três vezes.

– Nos 50m livre, o tempo do americano Anthony Ervin foi 9 décimos mais rápido que o de Matheus Santana. Quando o brasileiro pulou para fechar o revezamento, estava 8 décimos à frente. Por isso a lógica apontava para uma vitória dos Estados Unidos. Ainda mais quando Ervin colou no brasileiro já aos 25 metros. Mas o esporte subverte a lógica, Matheus cresceu e Ervin não conseguiu mais terreno no final da prova. Apesar da fortíssima parcial do americano (21s31) e da ínfima diferença no final (1min37s68 x 1min37s75), não ficou aquela impressão de que se a prova tivesse mais cinco metros os Estados Unidos venceriam, e sim que o brasileiro poderia manter a liderança.

– O tempo do revezamento foi anunciado ao microfone como nova marca mundial, mas não é recorde mundial. Simplesmente porque a FINA não reconhece a prova oficialmente (apesar de fazê-lo em piscina de 25 metros). A marca brasileira fica registrada como "world best", ou seja, uma espécie de recorde mundial não oficial. Apesar disso, existe o recorde sul-americano da prova, e este será devidamente registrado.

– A vitória foi muito comemorada pela torcida e também pela organização na beira da piscina, que apesar de sempre receber os nadadores estrangeiros muito bem e de sempre criar um vínculo com eles, são brasileiros acima de tudo.

– Matheus Santana começou a frequentar as seleções brasileiras adultas este ano. Neste Raia Rápida, se mostrou totalmente à vontade no meio dos veteranos Guilherme Guido, Felipe França e Nicholas Santos, que o acolheram da melhor forma possível em todos os eventos que fizeram parte nos últimos dias e na concentração no hotel. Apesar de ter sido muito assediado pela imprensa, atendeu a todos sempre com um sorriso no rosto, e mesmo já sendo uma das estrelas da natação brasileira, não foram poucas as pessoas que destacaram ao menos algum episódio de demonstração de humildade extrema do nadador durante os últimos dias.

Matheus Santana (foto: Satiro Sodré)

Matheus Santana (foto: Satiro Sodré)

– Um encontro de gerações muito interessante aconteceu. De um lado, o presente da natação brasileira na piscina, com Guilherme Guido, Felipe França, Matheus Santana. De outro, vários ex-nadadores prestigiando o evento, seja trabalhando ou assistindo, com destaque para grandes nomes da década de 90: Gustavo Borges, Luiz Lima, Alexandre Massura, Fernando Saez, Milene Comini, Teófilo Ferreira, Pedro Monteiro. Por vezes dava para se sentir em plena Olimpíada de Atlanta/1996! Nicholas Santos, que nadou seu primeiro Campeonato Mundial em 2001, chegou a frequentar várias competições com esse pessoal, o que valoriza ainda mais o fato de conseguir se adaptar a diferentes gerações e se manter entre os melhores do mundo.

– Após o evento, alguns dos nadadores estrangeiros foram dar uma volta na praia do Leme. Não foram poucas as pessoas que os reconheceram. "Olha lá os caras do Raia Rápida", era o que se ouvia. E eles nem estavam com os uniformes com os quais se apresentaram na transmissão. Nadadores não estão acostumados com esse tipo de assédio, mas uma transmissão ao vivo na Rede Globo faz a diferença. Este ano, é a única competição de natação de piscina transmitida ao vivo na emissora, e a maior audiência do esporte em 2014.

– Com o evento ganhando cada vez mais em emoção e visibilidade, muitos nadadores querem participar. A estrela australiana James Magnussen foi um dos que procuraram a organização para fazer parte este ano, mas teve que cancelar sua vinda por problema de contusão. Muitas grandes nadadoras pressionam os organizadores para uma versão feminina – a campeã mundial Therese Alshammar, da Suécia, é uma delas. Os nadadores da África do Sul, país estreante na competição, já avisaram que vieram para ficar, e que no ano que vem esperam conseguir trazer ninguém menos que o colega Chad le Clos, campeão olímpico dos 200m borboleta.

Por Daniel Takata

Equipe brasileira campeão (foto: Satiro Sodré)

Equipe brasileira campeã (foto: Satiro Sodré)

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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