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Os (bizarros) rituais dos nadadores

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03/10/2014 17h09

Os tapas no peito. Entrar pelo lado direito da piscina. Cabelo colorido, unhas pintadas das cores da bandeira do país. Lambida no óculos, maiô da sorte, animal de pelúcia na mochila, água na boca, pra depois cuspi-la. Morder a medalha. Ou mergulhá-la na piscina. Usar roupas extravagantes, imitar um boxeador, subir no bloco com a perna específica.

Rituais, amuletos, superstições fazem parte do esporte, e algumas tradições são absolutamente frequentes nos campeonatos aquáticos. Talvez nas linhas de cima você, caro leitor, possa ter identificado os autores de algumas dessas manias. Talvez tenha até se visto nelas, umas vez que existem algumas ideias pré-estabelecidas na natação que, por mais que a ciência possa ir contra, a crença fala mais alto.

Confira abaixo alguns dos rituais mais comuns dos nadadores para o antes, durante, e depois das provas.

1) Contato com a água no bloco

Um punhado de água levado à boca com as maõs. Alguns fazem bochecho e cospem, alto, forte, longe, perto, no chão. Outros engolem. Não é a mais agradável das cenas para quem vê pela televisão, mas faz total sentido para o nadador. A boca geralmente fica seca e pastosa antes de uma prova, e molhá-la simplesmente parece apropriado. Claro, há ainda a mania de molhar o maiô e o corpo, como que para "sentir a temperatura da água" antes de cair nela. Mesmo para os nadadores de costas, que vão sair de dentro d'água. Mas quem pode julgar e dizer que não funciona?

Os rituais de Cielo se tornaram famosos

Os rituais de Cielo se tornaram famosos

2) Girar os braços antes de subir no bloco

É aquecimento, alongamento, é uma questão física, claro. Cientificamente explicável. Mesmo quando o nadador faz exatamente três giros para trás, dois para frente, dá quatro saltinhos no chão, e finaliza com uma girada estratégica do pescoço…

3) Subir no bloco com o pé direito

Pode ser o esquerdo também, não tem problema. Cada um sabe a diferença cósmica da movimentação dos planetas que justifica a evidente escolha acertada pelo pé com que se sobe no bloco. Sem julgamentos!

4) Estapeamento

O ritual se popularizou com Cesar Cielo por volta de 2007, pouco antes da conquista de seu ouro olímpico, mas é uma tradição antiga no esporte. Reza a lenda que os tapas nos braços, barriga, pernas e rosto (!) ativam a circulação e "acordam" os músculos. E só assim eles saberão que devem ficar prontos para o início imediato da prova, claro.

Peito vermelho após os tapas: Cielo não abre mão da tradição

Peito vermelho após os tapas: Cielo não abre mão da tradição

5) Item amuleto

Pode ser uma touca, um óculos, ou mesmo o maiô. Todos se estragam com o tempo, e podem (e devem) ser substituídos, mas todo nadador já teve um dia aquele item de estimação. E todo nadador sabe como fica difícil encarar a primeira competição depois que aquela touca especial rasgou, ou o óculos perfeito arrebentou, ou o maiô da sorte esgarçou… é um adeus à vitória.

6) Raia da sorte

Nadar na raia 4 é, evidentemente, a melhor localização para uma prova. Não á toa o detentor da melhor marca salta nela. Pega menos onda, e ainda distribui "marola" para os rivais. As raias 1 e 8, pelo contrário, somam as ondas de todos os concorrentes. Mas quem disse que a raia 5 não tem uma aura incrível? Ou a 3, ou a 7… Cada qual com sua raia ideal, oras!

7) Macarrão pré-competição

O maior mito da alimentação pré-competição da natação é o jantar repleto de carboidratos. Um dia se disse que o macarrão, carboidrato de fácil absorção, era perfeito para o pré-competição. Gera energia rápida, não pesa, e ainda é prático e fácil de fazer. Sendo verdade absoluta ou não, até hoje é a refeição padrão de 90% dos nadadores às vésperas de suas provas.

8) Depilação

Raspar pernas e axilas para nadar é perfeitamente explicável e comum, é claro. Os braços também. Por que não a sobrancelha? Mais do que as frações de centésimos de segundo que se ganha em velocidade na piscina, o que vale mesmo é aquela sensação de ser um só com a água, e deslizar por ela quase que sem atrito. Tem coisa melhor?

9) Piscina rápida/lenta

Assim como raias e vestimentas da sorte, nadadores geralmente têm suas piscinas favoritas. "Mas eu sempre nado mais rápido na piscina do Internacional, em Santos", ou "a piscina do Corinthians tem 60m, não é possível!". Cada qual com sua sensação, desde o bloco até a profundidade, todo nadador tem a sua piscina de predileção.

10) Lambida no óculos

Sim, é nojento. Mas, aparentemente, a saliva na lente do óculos ajuda a recuperar a sensação de que você está realmente enxergando embaixo d'água (o que geralmente é perdido muito rapidamente quando o óculos novinhos já perdem a película protetora).

Phelps e seus tradicionais fones gigantes

Phelps e seus tradicionais fones gigantes

Entrar no balizamento com fones de ouvido. Girar os braços três vezes, antes de tirá-los para subir no bloco. Michael Phelps está errado em sua sequência invariável da sorte?

Caminhar para o bloco, girar os braços oito vezes, na ordem certa, apertar os óculos quatro vezes, e encostar na touca outras quatro vezes antes de nadar. Stephanie Rice, a australiana de ouro, assegura que é impossível agir diferente e vencer uma prova.

Entrar na piscina vestido de boxeador, testar alguns socos, chamar o público e saltar na piscina sorrindo. Quem tem coragem de encarar Gary Hall Jr. para dizer que nada disso é válido?

Gary Hall e a tradição do boxe

Gary Hall e a tradição do boxe

Tênis multicoloridos, acessórios estranhos, um sorriso de garoto e toda a marra de Ryan Lochte. Será que não funciona?

Praticamente um banho com as mãos antes de pular na piscina. Jessica Hardy não se importa de já cair na piscina molhada…

Mark Spitz não tirava o bigodão por nada no mundo. Levou as conhecidas sete medalhas de ouro nas Olimpíadas de 1972 com ele no rosto. Ditou uma lenda nas competições posteriores. Coincidentemente ou não, em 2008 Michael Phelps desembarcou na China ostentando uma vasta peleira acima dos lábios. Raspou antes de nadar, é verdade. Dessa tradição ele não precisava. Afinal, deixou Pequim uma medalha mais pesado que seu conterrâneo…

Em Pequim, Phelps ostentou um bigodão a la Mark Spitz

Em Pequim, Phelps ostentou um bigodão a la Mark Spitz

É cientificamente comprovado: superstições podem mesmo ajudar os atletas a garantir um bom resultado. O apego a um ritual ou amuleto, num geral, contribui pra sensação de autoconfiança, e atua no sistema límbico do cérebro, liberando hormônios e neurotransmissores, o que passa a sensação positiva. São detalhes que dão força e ajudam a superar o estresse e ansiedade.

E, afinal, medalhas olímpicas foram conquistadas pelos atletas citados. Muitas, diga-se. O que dá resultado é treino, concentração, muita água batida e alguns pesos levantados, todos sabem.

Mas, só por garantia, deixa eu dar aquela apertadinha no meu óculos da sorte, e eu já volto…

Por Mayra Siqueira

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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