A primeira vez a gente nunca esquece

Calma, não é o que você está pensando! Estou falando da minha primeira travessia em águas abertas. Apesar de viver intensamente os bastidores desse universo, como sócio-diretor da SWIM CHANNEL, nunca tinha experimentado e confesso que até tinha um certo receio. A prova escolhida foi o X-Terra Swim Challenge Costa Verde.

Embora tenha grande intimidade com o mar, já que pratico o surfe a 25 anos, não sabia como me comportar em meio a um formigueiro de gente como sempre vi nas fotos e até mesmo nos eventos. Sempre pratiquei esportes, porém não sou nadador e isso me deixava apreensivo, pois nunca tinha nadado 1.500 m de uma vez.

Vamos para a prova… Um dia antes da prova, meu amigo Patrick Winkler , um cara experiente em águas abertas, me deu alguma dicas e foi enfático em uma delas "não passe a primeira boia em 100% de esforço". Minutos antes da largada me posicionei mais ou menos na terceira fila pois seria muita ousadia querer largar ali na frente, até porque, antes de qualquer coisa, meu objetivo era unicamente terminar bem a prova.

Vista da Praia de Costa Verde, local do XTerra – Foto: Arquivo pessoal

Quando escutei a buzina corri pra água e já entrei no clima. As primeiras braçadas são muito tumultuadas, estava literalmente num formigueiro, mantive a calma e nadei sentido o horizonte até a primeira boia, que ficava uns 300 metros da areia. Lembrei da dica do meu enfático amigo que falou mais de dez vezes na minha orelha : não passe a 100%

A primeira curva é bastante disputada, vários atletas se afunilam ali, por isso fiz uma curva mais aberta e mantive o ritmo. Estava então na parte mais longa do percurso, mal conseguia ver a outra boia, portanto como bom paulistano que sou, segui o fluxo como se estivesse no trânsito (risos).

Nadamos aproximadamente 600 metros até o próxima boia paralelo à praia. Entrei no ritmo e não parei se quer uma vez, ali percebi como o psicológico contribui em provas de resistência. Nadando emparelhado com um cardume de cinco atletas falei comigo mesmo, meu objetivo não era mais só participar, queria vencer esses cinco atletas que nadavam num ritmo similar…ao virar na segunda boia comecei a acelerar sentido a praia mas ainda não tinha ultrapassado nenhum deles. Ao chegar na praia o atleta precisava correr uns 30 metros na areia fofa e voltar para a água. Essa mudança no centro de gravidade complica muito a vida do atleta mas lembrei novamente das dicas, não corra muito e você terá vantagem ao voltar para a água.

Andre após a prova com sua medalha – Foto: Arquivo pessoal

Não deu outra, mantive um trote leve e ao cair novamente no mar vi os atletas traçando uma parábola rumo a penúltima boia. Como pude ver a bóia com clareza nadei numa linha reta e ganhei alguma posições. Com ar triunfante ,coloquei a cabeça na água e foquei nos últimos 500 metros da prova. Foi aí que resolvi nadar a 100%. A sensação foi ótima e nas últimas braçadas me sentia bem. Sai da água e corri pro abraço.

Meu sentimento foi de missão dada é missão cumprida! Realmente uma experiência que além de única, mudou minha vida naquele exato momento. Percebi que dali pra frente essa seria a primeira de muitas chegadas.

Andre Matheus
Sócio-diretor da SWIM CHANNEL e a partir de hoje, nadador de águas abertas!