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O fim da geração 'menor de idade' de Londres

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20/03/2015 11h24

Na última quinta-feira, quando soprava dezoito velinhas sobre seu bolo de aniversário, Ruta Meilutyte colocava fim a uma era de "novinhas" aquáticas. Se ela e outras companheiras surpreenderam o mundo nos Jogos Olímpicos de 2012 desbancando veteranas, agora elas são as experientes e rivais a serem batidas para o esperado evento do Rio no próximo ano.

Aos 15 anos, a lituana venceu os 100m peito e se tornou a segunda atleta mais jovem da natação a conquistar um ouro olímpico – perdeu para a japonesa Kyoko Iwasaki, que venceu os 200m peito da Olimpíada de Barcelona em 1992 aos 14 anos.

No mesmo evento, a chinesa Ye Shiwen já havia assombrado o planeta ao vencer os 400m medley com um arrasador final de prova. Aos 16. Entre as americanas, a já bem conhecida "Phelps de saias", Missy Franklin, abocanhou aos 17 anos cinco medalhas olímpicas, sendo quatro de ouro, na sua primeira participação nos Jogos.

Sem óculos, de maiô simples, e tamanho infantil: Kyoko Iwasaki foi campeã olímpica aos 14 anos - Foto: Reprodução YouTube

Sem óculos, de maiô simples, e tamanho infantil: Kyoko Iwasaki foi campeã olímpica aos 14 anos – Foto: Reprodução YouTube

Dois dias antes do aniversário de Ruta encerrar a geração "menor de idade" de Londres, Katie Ledecky, a mais jovem integrante da seleção norte-americana e medalhista de ouro dos 800m livre em Londres, também recebeu os parabéns e completou 18 anos.

Hoje experientes no cenário mundial, confira o que fizeram de 2012 pra cá – e o que esperar dos já não tão novos fenômenos da natação:

Missy Franfklin – 19 anos (completa 20 em maio)

Missy Franklin é referência da natação feminina norte-americana

Missy Franklin é referência da natação feminina norte-americana

Talvez mais famosa que sua conterrânea Ledecky, Missy já tinha mais atenção da mídia em 2012 – até por ser dois anos mais velha. Mas os primeiros passos foram parecidos. A jovem de Pasadena, Califórnia, ficou popular depois do vídeo ao som do hit "Call Me Maybe", com a seleção norte-americana, que tornou-se um viral na época. Parece quase um pecado atribuir popularidade para uma estrela esportiva por um desempenho em um vídeo amador, mas a verdade é que a simpatia de Missy fez o mundo vê-la com olhares nem sempre dispensados a atletas fenomenais, mas pouco carismáticos, como Michael Phelps.

Franklin debutou internacionalmente na seletiva americana de 2008, aos 13 anos. Nada de muito espetacular, mas em 2010 ela conseguiu vaga no time para o Pan Pacífico, quando sua carreira realmente deslanchou. Em Londres, desnecessário dizer: tornou-se uma estrela feminina das piscinas, selando seu bom momento em Barcelona-2013, com seis ouros em sete provas (200m livre, 100m e 200m costas, 400m medley e 4x100m medley e livre, e 4×200 livre, além de um quarto lugar no 100m livre).

Assim como optou Ledecky, Missy escolheu permanecer amadora (isso é, rejeitando qualquer tipo de contrato de patrocínio) até este ano, para poder disputar o NCAA, o fortíssimo campeonato norte-americano universitário.

Com uma lesão nas costas, Franklin teve uma temporada abaixo da média em 2014. Ainda assim bateu a terceira melhor marca da história americana no 100m costas no campeonato nacional, vencendo também os 200m do estilo e 100m livre, e terminando com a prata nos 200m livre, atrás de Katie. No Pan Pacífico, nadou quatro provas individuais e três revezamentos, e levou apenas um bronze sozinha, nos 100m costas, além de ouro no 4x200m livre e prata nos 4×100 livre e medley.

Ye Shiwen – 19 anos

Ye Shiwen, dona do fim de prova mais impressionante de todos os tempos nos 400m medley - Foto: Martin Bureau/AFP

Ye Shiwen, dona do fim de prova mais impressionante de todos os tempos nos 400m medley – Foto: Martin Bureau/AFP

Ela venceu os 400m em Londres com um fim de prova mais rápido que o campeão masculino da prova, Ryan Lochte. "Só" isso. Levantou suspeitas – e acusações – de uso de doping para justificar seu desempenho espantoso. Negou veementemente. E seguiu com poucos holofotes por parte do mundo aquático ocidental desde então.

Ye Shiwen foi escolhida ao final de 2014 a nadadora asiática do ano pelo portal especializado Swim Swam, com a explicação de que, realmente, não teve assim uma temporada espetacular, mas ainda está muito à frente das principais nadadoras asiáticas. Venceu os 200m e 400m medley nos Jogos Asiáticos, e com uma distância considerável de suas rivais, se mantendo no top 10 do mundo do ano nas provas. A menos de um segundo da líder Katinka Hosszu nos 200m, em quarto lugar na lista e, ainda mais expressivo, líder nos 400m com os 4m30s84 que bateu no Campeonato Chinês, tempo feito com uma dor de estômago que a tirou da prova mais curta na ocasião. Relevantes marcas internacionais.

Katie Ledecky – 18 anos

Katie Ledecky é hoje a maior nadadora americana, aos olhos do especialistas - Foto: Lluis Gene/AFP/Getty Images

Katie Ledecky é hoje a maior nadadora americana, aos olhos do especialistas – Foto: Lluis Gene/AFP/Getty Images

Três recordes mundiais nas três provas de fundo da natação. A nona nadadora na história, mas a primeira desde Janet Evans (1988-2006), a conquistar o feito.

Ledecky está destinada a grandes conquistas desde o início de sua adolescência, assim veem os que tiveram contato com a jovem nas primeiras braçadas. Até as seletivas pré-olímpicas de 2012, Katie não havia disputado uma grande competição. Pode-se considerar, sim, que era uma quase desconhecida do mundo quando pisou no parque aquático londrino, três anos atrás. O foco estava na dona da casa, recordista mundial e favorita, Rebecca Adlington. Que viu seu reinado cair com a batida de mão da menina de 15 anos, seis segundos à sua frente. E 21 segundos abaixo do que a americana fazia um ano antes.

Isso é apenas uma "reprise" do que foi o surgimento de Ladecky no cenário internacional. Mas o que a atleta é, e o seu gigante potencial, apareceriam de verdade para o mundo nas duas temporadas subsequentes. Antes de ter permissão de dirigir em seu país, ela já somava dois recordes mundiais, quatro títulos mundiais e o ouro olímpico. No Pan Pacífico do ano passado, foram cinco vitórias: 200m, 400m, 800m, 1500m e 4x200m livre. A primeira atleta a conquistar quatro provas individuais no evento.

Do alto de sua precoce maturidade, Katie prega o que todo veterano, eventualmente, aprende: "Quando você está atrás do bloco, você põe em prática o que você treinou. É claro que você sabe o que você vai fazer em cada prova". Parece simples, mas muitos demoram a aprender. E a pequena joia é guardada com todo o cuidado pela comissão técnica  norte-americana.

Ruta Meilutyte – 18 anos

Lágrimas e sorriso infantil: a 'menina' Ruta Meilutite, é, aos olhos do seu treinador e rivais, uma mulher formada

Lágrimas e sorriso infantil: a 'menina' Ruta Meilutite, é, aos olhos do seu treinador e rivais, uma mulher formada

Ela nada com adultas, com mente equivalente. Apesar da idade, o sucesso precoce fez com que a jovial lituana que fez história em Londres aprendesse a pensar como suas concorrentes. Talvez ironicamente, ela se sente melhor entre as mais velhas. Quando pisava em um evento junior, até então de sua categoria, Ruta era uma estrela. Autógrafos, fotos, rostos virando em sua direção, olhas furtivos e ansiosos no balizamento. Mas entre os profissionais, ela é apenas mais uma.

Meilutyte abocanhou desde Londres todos os títulos mais relevantes possíveis no cenário internacional, nos 50m e 100m peito: foi campeã mundial de longa e de curta – no absoluto e na categoria junior-, campeã europeia nas duas piscinas, campeã dos Jogos Olímpicos da Juventude, e campeã europeia junior. Ainda possui os recordes mundiais de 50m na longa e 100m peito nas duas piscinas (dividindo o de curta com a jamaicana Alia Atkinson).

A maturidade se vê na forma como ela encara a "pressão". Quer vencer os 100m peito no Rio novamente por uma questão de orgulho – orgulho de manter seu título, e para repetir o orgulho de seus conterrâneos com mais uma expressiva marca para o pequeno país. "A pressão existe porque todos ali querem me ver nadar bem outra vez. Não tem como ver como algo negativo".

***

A atleta mais jovem a conquistar um ouro na história dos Jogos Olímpicos foi a americana Marjorie Gestring dos Saltos Ornamentais, que venceu Berlim, em 1936, aos 13 anos. Entre outros eventos internacionais, a nadadora mais jovem a conquistar uma medalha foi a dinamarquesa Inge Sorensen, bronze nos 200m peito com apenas 12 anos.

Por Mayra Siqueira

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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