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A renovação que só faz bem

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11/05/2017 22h20

Faz muitos anos que Poliana Okimoto, Ana Marcela Cunha e Allan do Carmo têm sido praticamente sinônimos de representatividade internacional brasileira na principal prova de águas abertas, os 10km. A prova olímpica.

No feminino, por exemplo, desde 2006, jamais uma atleta com nome diferente de Poliana e Ana Marcela representou o Brasil em Mundiais ou Olimpíadas nos 10km.

Por um lado, ter o trio nas disputas sempre garantiu grande competitividade e esperança de medalhas para o país.

Mas, por outro, a superioridade dos três nadadores no Brasil era preocupante.

Eles mantêm a hegemonia no país há mais de uma década. A pergunta que já se faz algum tempo é: quando saírem de cena, haverá gente boa o suficiente para honrar suas conquistas no cenário internacional?

Pois a nova geração parece aos poucos dar as caras. Hoje, a etapa do circuito brasileiro em Foz do Iguaçu, seletiva para o Mundial de Budapeste, em julho, trouxe resultados inéditos. E promissores.

A começar por Viviane Jungblut.

A nadadora do Grêmio Náutico União terminou os 10km na segunda posição, apenas um décimo atrás de Ana Marcela, e à frente de Poliana.

Não se pode dizer que a excelente prova da gaúcha tenha sido uma surpresa. Afinal, vem em grande fase: venceu os 800m e 1500m no Troféu Maria Lenk, há uma semana, bateu recordes brasileiros em piscina curta no segundo semestre do ano passado e vem evoluindo a passos largos nas maratonas aquáticas.

"Por enquanto estou treinando para piscinas e águas abertas e venho conseguindo conciliar os calendários", disse Viviane à SWIM CHANNEL. "Talvez mais para frente tenha que optar."

Mas, se uma boa prova era esperada por ela, não é todo dia que alguém nada cabeça a cabeça com Ana Marcela e Poliana. E, por isso, ela mesma se surpreendeu com o resultado final. "Treinei bastante para obter um bom resultado, mas não esperava chegar na segunda posição", disse, ainda emocionada com o feito.

Não é para menos: ela e Ana Marcela serão as duas as representantes do país no Mundial na prova de 10km.

Viviane Jungblut e Ana Marcela Cunha (foto: Gustavo Torres)

Para Ana Marcela, alívio e a confirmação de que se mantém em alto nível mesmo após uma cirurgia para remoção do baço, no segundo semestre do ano passado, devido a uma doença auto-imune.

Ela vai para seu nono Campeonato Mundial (contando os Mundiais de águas abertas, disputados até 2010). E busca chegar ao pódio pela quinta edição consecutiva (foi bronze nos 5km em 2010; ouro nos 25km em 2011; prata e bronze nos 5km e 10km em 2013; e ouro, prata e bronze nos 25km, prova de equipes de 5km e 10km em 2015).

Para Poliana, a terceira posição significa que não nadará no Mundial a prova que venceu em 2013 e na qual conquistou a medalha solitária dos esportes aquáticos do Brasil na Olimpíada de 2016.

É a primeira vez, desde que Mundiais de esportes aquáticos são realizados, em 1973, que um atleta do país não se classifica para a disputa mundial da prova que lhe rendeu medalha nas águas da Olimpíada imediatamente anterior.

Por outro lado, ela pode se espelhar no exemplo da americana Haley Anderson: prata nos 10km em Londres 2012, não se classificou para a prova para o Mundial de Barcelona 2013.

Mas se classificou para os 5km na ocasião. E saiu com o título mundial.

Poliana pode buscar a classificação para o Mundial e dar a volta por cima justamente nos 5km, no sábado. Ela já provou anteriormente que é capaz.

O fato é que a entrada de Viviane entre as grandes é ótima notícia para a maratona aquática feminina do Brasil.

Ela não esconde que tem nas duas estrelas exemplos a seguir.

"Elas são excelentes! Eu as admiro muito e são minhas referências", diz. E completa: "Mas, quando caio na água, é para competir e tentar ganhar."

O nível de Ana Marcela e Poliana, que já era alto, tende a aumentar com uma nova rivalidade.

E Viviane torna-se um carro chefe para puxar uma nova geração a voos internacionais.

No masculino, o cenário é um pouco diferente. Mas guarda semelhanças.

Allan do Carmo representou o Brasil nos 10km em todos os Mundiais e Olimpíadas desde 2006 (à exceção da Olimpíada de 2012).

Em todos esses anos, teve companheiros diferentes na prova, como Luiz Lima, Fábio Lima, Marcelo Romanelli, Samuel de Bona, Diogo Villarinho e Filipe Alcântara.

Desta vez, terá um novo colega: Fernando Ponte, assim como Viviane também do Grêmio Náutico União.

Allan do Carmo, Fernando Ponte e Victor Colonese (foto: Mariana Sá/CBDA)

Que não só garantiu classificação para o Mundial, como derrotou Allan na prova de hoje e o deixou na segunda posição.

Surpresa? Não para Fernando. "Me dediquei especialmente para essa seletiva e fiz um excelente trabalho com a equipe de profissionais do GNU. Não foi uma surpresa. Sabia que seria difícil, mas possível. Abri mão do Maria Lenk para ficar treinando, e valeu a pena", disse Fernando à SWIM CHANNEL.

Assim como no feminino, o aparecimento de um atleta entre os grandes pode representar uma motivação a mais para Allan não baixar a guarda em nenhum momento.

"Nadar contra o Allan é uma motivação muito grande, pois ele é uma inspiração e um referência. Para derrotá-lo é preciso estar muito concentrado no final de prova", declarou Fernando.

O reconhecimento ao que vem fazendo atletas como Ana Marcela, Poliana e Allan ao esporte brasileiro é indispensável. São atletas fantásticos e devem sempre merecer reverências por suas conquistas.

Tão importante é louvar o aparecimento de atletas que façam frente a eles.

Quem aparece está sedento por um lugar ao sol, e os que estão no topo têm uma motivação a mais para se manterem em alto nível. A concorrência gera a excelência.

Um alento para que a maratona aquática continue trazendo alegrias para o Brasil, como tem sido desde 2006.

E que venham por mais dez, vinte, trinta anos…

Por Daniel Takata

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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