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Diferenças entre a natação de piscina e em águas abertas

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30/08/2019 16h10

Este tema foi muito abordado no recente Campeonato Mundial Esportes Aquáticos de Gwangju na Coreia do Sul e também é muito presente na comunidade aquática. Então vamos direto ao assunto! As diferenças tornam-se bem claras para os praticantes e também aos expectadores.

A piscina é um ambiente totalmente controlado, com temperatura da água em torno de 25 graus. Em qualquer competição, em qualquer lugar do mundo você encontrará esta temperatura da água, o que não ocorre em águas abertas, onde esta variação é muito grande. A FINA determina que as temperaturas mínima e máxima para a maratona aquática são de 16 graus no mínimo e 31 graus no máximo. Se a temperatura estiver abaixo de 16 graus ou acima de 31 graus a prova não acontece.

Viviane Jungblut nadou nas águas abertas e piscina no Mundial e no Pan – Foto: Satiro Sodré

Além disso, nas águas abertas temos os ventos, as ondulações e as correntes, variáveis que não estão presentes na piscina. Estes fatores fazem com que o atleta tenha que mudar sua técnica de nado no decorrer da prova. Tais condições também influenciam no esforço e na estratégia de prova. Durante uma prova de maratona aquática você tem que tomar decisões rápidas para se adequar à todas essas circunstâncias. Na piscina você vai executar a estratégia planejada junto a seu técnico, sem ter que se preocupar com estes fatores climáticos.

Algo que interfere muito nas provas de águas abertas são as correntes, que apesar de não serem muito visíveis, são muito impactantes. Já houve provas em que o tempo das mulheres foi mais forte do que o dos homens, por conta das correntes e do horário das respectivas provas. Quando se está nadando em uma situação de corrente contra, você terá que adequar sua estratégia, fazer mais esforço, havendo um maior desgaste físico e emocional e com a corrente a favor, você pode aproveitar esse momento, sabendo que nesta situação seu nado fluirá mais leve e mais rápido.

Florian Wellbrock foi campeão mundial na piscina e nas águas abertas em Gwangju – Foto: Reprodução

Na maior parte das provas do Campeonato Mundial de Gwangju, alguns especialistas avaliaram que pela ausência de ventos, correntes, ondulações e pela água estar em uma temperatura ideal, o ambiente estava próximo às provas de piscina, o que não significa que nadadores de piscina irão se sobressair somente pelo ambiente, pois a dinâmica da prova é completamente diferente. Um nadador de piscina que não estiver habituado a realizar contornos de boia, hidratações e respiração frontal, com certeza não se sairia bem em Gwangju, onde tivemos um percurso com seis voltas e um pelotão de quase 40 nadadores em mais da metade da prova masculina, por exemplo.

Os contornos de boias exigem um treinamento específico para uma boa execução, pois nestes momentos existem muitos contatos físicos que influenciam no desempenho do atleta de águas abertas. Nas piscinas temos as viradas, que também exigem técnica e treinamento, mas não existe o contato físico com outros atletas. O próprio treinamento de viradas na piscina é mais real, pois o contorno de boia nunca será simulado com a mesma intensidade que nas competições oficiais, onde temos diversos atletas nadando juntos e neste momento a experiência do nadador conta bastante.

Gregorio Paltrinieri foi medalhista na piscina e nas águas abertas no Mundial – Foto: Reprodução

O percurso de 10 km, que é a distância olímpica, costuma ser de quatro voltas de 2,5 km, porém não existe regra para esta divisão. Uma prova de 10 km tem duração em média de 2 horas, podendo este tempo ser maior ou menor, dependendo das condições climáticas. Em Gwangju, o percurso de 10 km foi de seis voltas, sendo assim, tivemos muitos contornos de boias. Hoje em dia é mais comum termos provas de 10 km com um maior número de voltas, assim a prova parece se tornar mais dinâmica e mais rápida, além de ser melhor para os veículos de comunicação, não só para a transmissão de imagens, como também, para o controle das posições dos atletas em tempo real. Na piscina o nado parece ser mais "quebrado", em relação à maratona aquática, pois a distância máxima é de 50 metros ininterruptos.

Outra questão importante e decisiva na maratona aquática é a navegação. Na piscina você não precisa desta habilidade, pois há raias, que atuam como quebra-ondas e listras pretas no fundo que ajudam na orientação do atleta. Enquanto que o maratonista tem que adequar sua técnica de nado às condições climáticas externas, poupando o máximo de energia e tentando evitar a quebra do ritmo de prova. Em evento de piscina a disputa é totalmente previsível e você poderá executar tanto a técnica quanto a estratégia planejada. Seu ritmo de prova, força e intensidade poderão ser executados como em seus treinos diários.

Pelotão de nadadores em prova de águas abertas – Foto: Vanessa Lucas

Na maratona aquática você tem que estar sempre pronto para superar as adversidades que podem ocorrer durante a prova e estar disposto a alterar sua estratégia, seu ritmo de nado e tomar a melhor decisão possível rapidamente. Uma prova de águas abertas pode ter início em um ambiente tranquilo e no decorrer do percurso ocorrerem mudanças climáticas, obrigando o atleta a mudar sua estratégia, o que nunca aconteceria em uma prova de piscina. Por este motivo não levamos muito em conta o tempo final em uma prova de águas abertas. Já na piscina o tempo de prova é muito relevante e algo a ser "batido" e superado pelos atletas, pois não existem interferências externas.

Lembrando também que nas águas abertas não existem índices ou recordes, as classificações para provas oficias acontecem somente pela colocação do atleta na prova e o seu objetivo será sempre obter a melhor posição possível, o que condiciona o técnico e o atleta a construírem sua estratégia, baseando-se sempre nos adversários, ou seja, no pelotão. Nem sempre é o atleta que dita o ritmo de nado da sua própria prova, pois ele é completamente influenciado pelo ritmo dos nadadores que estão "puxando" a prova.

Agora que já vimos as principais diferenças entre o nado nas piscinas e nas águas abertas, que tal pegar sua sacola de treino e se preparar para os próximos desafios? Seja na piscina, no mar ou represa. Bora treinar!

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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