O slogan do Mundial de Barcelona de 2003 foi "Barcelona é incrível". Naquele ano, realmente foi. E apesar do slogan deste ano não ser o mesmo, foi assim que começou o campeonato, ao menos para os brasileiros: de maneira incrível.

Ontem, previmos que não custava sonhar em uma dobradinha no pódio dos 5 km feminino. Pela maneira com que Ana Marcela Cunha e Poliana Okimoto nadaram nos últimos anos, essa dobradinha até que estava custando a sair. E ela saiu hoje de maneira espetacular.

A americana Haley Anderson tomou a liderança logo no início e às vezes abria uma boa vantagem. Um bolo de nadadoras lutava pela segunda posição, com a francesa Aurelie Muller, a americana Rebecca Mann e a italiana Martina Grimaldi eventualmente se destacando. Na metade da prova, Poliana passou na quarta posição, mas logo deu um sprint e assumiu a liderança. Já Ana Marcela fazia uma prova de recuperação e na metade estava fora das 10 primeiras, mas logo conquistou a sétima posição.

A briga pelo ouro foi alucinante até o final. Aderson colou em Poliana e bateu somente dois décimos de segundo na frente. No final, Ana Marcela estava no bolo, surpreendeu Grimaldi, Mann e outras que se destacavam na briga pelo bronze e tocou na terceira posição. Ao final, um abraço efusivo das duas brasileiras atestou o sentimento de missão parcialmente cumprida. Parcialmente porque ainda irão nadar as provas de 10 e 25 km. Já Haley Anderson, campeã olímpica dos 10 km, encerra sua participação por aqui: não conseguiu classificação na seletiva americana para as outras provas.

Poliana e Ana Marcela já eram as únicas brasileiras medalhistas em Mundiais de Desportos Aquáticos no feminino (Poliana com a prata em 2009 nos 5 km e Ana Marcela com o ouro em 2011 nos 25 km). E agora conseguem um feito jamais conseguido por fortes duplas brasileiras da natação, como Gustavo Borges/Fernando Scherer e Cesar Cielo/Bruno Fratus: uma dobradinha no pódio em Mundial.

Poliana declarou após a prova que o resultado foi surpreendente, pois ela passou muito mal durante a noite e não tinha noção de como nadar a prova, mas começou a se sentir muito bem durante a prova e deu no que deu. Ana Marcela também achou o resultado inesperado, pois ela acha os 5 km uma prova muito curta para ela. Ambas estão focadas nos 10 km, a prova nobre da natação de águas abertas, e disseram que o resultado de hoje lhes trás muita confiança.

Uma curiosidade: durante a prova, um animador de torcida ficava na arquibancada. Em dado momento, começou a fazer perguntas sobre curiosidades da natação. Após se frustrar com um australiano que não sabia quando provas de águas abertas foram introduzidas nos Mundiais (foi na Austrália em 1991), perguntou a outra pessoa quem havia sido o primeiro nadador a cruzar o Canal da Mancha. Para sua surpresa, a resposta foi imediata. Pudera: o escolhido foi justamente Igor de Souza, coordenador técnico de águas abertas da CBDA e ele próprio o recordista sul-americano do Canal da Mancha!

Por Daniel Takata