A melhor equipe de revezamento da história?
swimchannel
20/11/2013 05h00
Tente se lembrar. Quais foram os últimos recordes mundiais quebrados na natação em Jogos Pan-Americanos?
Se você acha que foram estabelecidos por nadadores dos Estados Unidos, acertou. Afinal de contas, dos 17 recordes mundiais quebrados desde a primeira edição, em Buenos Aires-1951, somente dois não o foram por americanos.
Na edição de Caracas, na Venezuela, em 1983, o brasileiro Ricardo Prado, então campeão mundial dos 400m medley, brilhou. Enfrentando os melhores nadadores dos Estados Unidos, venceu os 200m e 400m medley, além de uma prata nos 200m borboleta e um bronze outra prata nos 200m costas (obrigado Renato Cordani pela correção). Mas aqueles Jogos também foram os últimos que viram recordes mundiais na natação.
Os Estados Unidos foram a Caracas com uma equipe fortíssima. Seria a penúltima vez que levariam uma equipe principal a um Pan (depois, somente em 1995). Nomes como Mary T. Meagher e Cinthia Woodhead integravam a equipe.
Também estava no time Rick Carey. Fabuloso costista, naquele ano havia superado os recordes dos 100m e 200m, que pertenciam desde 1976 à lenda John Naber. Em Caracas, melhorou ainda mais seu recorde dos 100m costas. O tempo de 55s19 permaneceria como mais rápido da história por quase cinco anos. Pelos seus feitos, Carey seria eleito o melhor nadador do mundo de 1983.
Outro estupendo atleta que nadou aquele Pan foi Steven Lundquist. Assim como Carey, também já era recordista mundial, nos 100m peito. Em Caracas, abaixou ainda mais sua marca e com 1min02s28 derrotou seu compatriota John Moffet por apenas oito centésimos. Essa rivalidade ainda renderia uma boa história na Olimpíada de 1984, a qual foi muito bem descrita por Renato Cordani no Blog Epichurus (clique aqui para ler)
Havia também Matt Gribble, então campeão mundial dos 100m borboleta. Assim como Carey e Lundquist, também havia superado o recorde mundial em sua especialidade duas semanas antes do Pan, no Campeonato Americano, com 53s44. Em Caracas, não melhorou seu tempo, mas venceu a prova.
E havia Rowdy Gaines. Já na época considerado um dos maiores nadadores de livre da história, tinha onze recordes mundiais no currículo. Em 1983 não atravessava a melhor fase da carreira, é verdade, mas detinha o recorde mundial dos 100m livre com 49s36 desde 1981 e o dos 200m livre desde 1982. Em Caracas, venceu os 100m livre e ficou em 3º nos 200m.
Notaram que esses quatro nadadores eram detentores das marcas mundiais das provas de 100 metros? E que representavam o mesmo país? Ou seja, havia a possibilidade de um 4x100m medley com recordistas mundiais em todas as parciais.
Pois no dia 22 de agosto de 1983 esse revezamento se tornou real. Como não poderia deixar de ser, vitória com recorde mundial. A marca final, de 3min40s42, foi 42 centésimos melhor que o recorde anterior, de uma equipe americana totalmente diferente, da Olimpíada de 1976. Parciais: Carey 55s60, Lundquist 1min02s01, Gribble 53s47, Gaines 49s34.
"Quando tenho três nadadores como esses nadando antes de mim, o que posso dizer?", disse Gaines, que fechou o revezamento, após a prova, ao jornal Press Republican. "Acho que minha avó poderia nadar no meu lugar e ainda assim a equipe quebraria o recorde mundial!"
Carey, Lundquist, Gribble e Gaines com suas medalhas do 4x100m medley (foto: Tim Morse/Swimming World)
Foi a única vez na história que um revezamento medley juntou os recordistas mundiais de todas as provas de 100 metros. A única outra vez que um país teve os quatro recordistas foi em 1961. Robert Bennett (costas), Chet Jastremski (peito), Fred Schmidt (borboleta) e Steve Clark (livre) estabeleceram recordes mundiais no Campeonato Americano de 1961. Mas nunca tiveram a oportunidade de nadar um revezamento medley juntos.
Naquele Pan de 1983, a equipe americana chegou com quase oito segundos de vantagem em relação ao Canadá, equipe segunda colocada. Como não houve pressão de adversários, Lundquist previu a equipe poderia melhorar o recorde. "Podemos abaixar dois ou três segundos. Esperem as Olimpíadas de Los Angeles", disse ele, de acordo com a revista Swimming World.
Não foi para tanto. Em Los Angeles-1984, a equipe melhorou o recorde, mas em um segundo. No entanto, a equipe já não contava com quatro recordistas mundiais. Carey, Lundquist e Gaines ainda eram os mais rápidos em suas provas. Mas no borboleta Gribble perdeu o recorde para Pablo Morales na seletiva olímpica, que por sua vez perdeu o recorde na Olimpíada para o alemão Michael Gross.
Um revezamento com três recordistas mundiais e o outro sendo o segundo mais rápido da história também não é nada mal. Aconteceu novamente na Olimpíada de Atenas-2004. Aaron Peirsol (100m costas), Brendan Hansen (100m peito) e Ian Crocker (100m borboleta) eram recordistas, e Jason Lezak havia se tornado, naquele ano, o segundo no ranking da história dos 100m livre, atrás apenas do holandês Pieter van den Hoogenband. Como não poderia deixar de ser, venceram o 4x100m medley com recorde mundial.
Mas com quatro recordistas somente aquela histórica equipe americana do Pan de Caracas-1983. Pode ter havido outras performances em revezamentos mais impactantes, mas em termos de qualidade dos integrantes, aquele time é insuperável. E pode ser apontado, com méritos, como a melhor equipe de revezamento medley da história.
Por Daniel Takata
Sobre o Autor
Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.
Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.
Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.
Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.
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