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O sorriso brasileiro voltou em Doha

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06/12/2014 15h34

Após um dia histórico para a natação brasileira anteontem, no Campeonato Mundial de piscina curta em Doha, no Catar, o dia de ontem foi um baque. Apenas uma medalha, um bronze, justamente em uma prova que se esperava muito. Como a derrota de Cesar Cielo em sua prova principal, os 50m livre, poderia influenciar o clima da seleção na competição?

Após um dia de baixa, o Brasil voltou a sorrir em Doha. Com dois pódios, o saldo do penúltimo dia de competições foi positivo. As medalhas brasileiras foram muito comemoradas, ao contrário do bronze de ontem, renovando o ânimo para as provas que restam. Os ótimos desempenhos e classificações em semifinais preparam terreno para um ótimo último dia de competições amanhã. Em um dia com cinco recordes mundiais, o clima não poderia ser melhor.

Prata comemorada

Muitos ficaram com a impressão de que Nicholas Santos perdeu a medalha de ouro nos 50m borboleta, após liderar boa parte da prova. Errado, como o próprio Nicholas fez questão de enfatizar em entrevista para o SporTV. "Acho que fiz tudo certo, fiz meu melhor tempo (22s08), recorde sul-americano, não poderia ser melhor". O problema é que do seu lado estava um nadador que já é um dos maiores da história em piscina de 25 metros, o sul-africano Chad Le Clos.

Nicholas Santos e Chad Le Clos (foto: Satiro Sodré)

Nicholas Santos e Chad Le Clos (foto: Satiro Sodré)

O brasileiro teve excelentes saída e virada, mas Le Clos também tem um nado submerso fantástico e sua parte nadada é melhor que a de Nicholas (afinal, ele é campeão olímpico dos 200m borboleta). Por isso, sua vitória não foi surpresa. 21s95 é a melhor marca da história sem trajes tecnológicos. As posições do pódio de 2012 se inverteram. O desempate pode ocorrer no Mundial de piscina longa no ano que vem, em Kazan, na Rússia. Uma coisa é certa: aos 34 anos, ninguém no mundo apresenta uma regularidade e consistência tão grande na prova quanto Nicholas Santos.

No lucro

A medalha de bronze conquistada pela equipe brasileira no revezamento 4x50m livre misto pode ser considerada lucro. Entre grandes equipes, ela não estava na conta antes do campeonato começar, como estavam as medalhas dos revezamentos medley. Mas, com a velocidade mostrada por João de Lucca e a grande fase de Etiene Medeiros, a comissão técnica acertou na mosca ao retirar a equipe masculina do 4x50m livre, que também teve a prova realizada hoje, e Etiene da semifinal dos 50m livre para poupar os nadadores o máximo possível.

E deu certo. Com 1min29s17, a equipe ficou somente a quatro centésimo da prata (que foi para a Rússia), mas também ficou a apenas cinco centésimos do quarto lugar (Itália), posição que Larissa Oliveira segurou muito bem. Por isso, nada a lamentar, só a comemorar. Até porque o tempo foi abaixo do antigo recorde mundial, que agora é da equipe americana que venceu a prova (1min28s57). Destaque para a espetacular parcial de Etiene, 23s58, terceira melhor entre todas as mulheres que nadaram a prova. Cielo, abrindo para 20s65, melhorou em relação à prova individual, mas ainda longe de lhe satisfazer.

Cesar Cielo, João de Lucca, Etiene Medeiros e Larissa Oliveira no pódio (foto: Satiro Sodré)

Cesar Cielo, João de Lucca, Etiene Medeiros e Larissa Oliveira no pódio (foto: Satiro Sodré)

Grandes projeções

Motivo de comemoração também foram as performances nas semifinais, que deixam a perspectiva para um ótimo dia amanhã. Etiene Medeiros, com 25s99, recorde sul-americano, está com o segundo tempo nos 50m costas, com reais chances de brigar pela medalha de ouro. Felipe França também passou em segundo nos 50m peito com 25s77. Mas claramente segurando no final, e ainda assim chegando muito perto de seu melhor tempo de 25s71. Um espetacular 25s50 é possível. João Gomes Junior, com melhor marca pessoal de 26s25, também promete brigar pelo pódio.

João de Lucca e Cesar Cielo classificaram-se nas primeiras posições nos 100m livre, com Cielo segurando no fim. Aqui o ouro é dificílimo: Florent Manaudou, iluminado, vai atrás do recorde mundial de 44s94, e acreditamos que irá conseguir. Mas dois brasileiros no pódio dos 100m livre seria uma reedição dos melhores dias de Gustavo Borges e Fernando Scherer, nos mundiais de 1993 e 1995. Amanhã também teremos a final do revezamento 4x100m medley masculino. Já com o ouro no 4x50m, a equipe brasileira entra como favorita. E quem sabe podem até sair mais três medalhas de ouro, assim como no histórico segundo dia de competições.

Também estão classificados para as finais de amanhã Daiene Dias, nos 100m borboleta, e Henrique Rodrigues nos 100m medley. Ambos com melhores marcas pessoais, motivados e em busca de melhorar ainda mais, tanto tempos quanto posições.

Os recordes

Cada um dos recordes mundiais estabelecidos nas outras finais tem uma história curiosa.

Alia Atkinson (foto: G. Scala/Deepbluemedia)

Alia Atkinson (foto: G. Scala/Deepbluemedia)

A marca da equipe russa no 4x50m livre masculino de 1min22s60 é recorde mundial, mas não é a melhor marca da história. Explicação: a FINA começou a reconhecer recordes mundiais em provas de 4x50m em 2013. Antes disso, a LEU (Liga Europeia de Natação) já reconhecia recordes europeus. O recorde continental do 4x50m livre masculino, de 2009, é 1min20s77 da França. Criou-se então a estranha situação que o recorde mundial é mais lento que o recorde europeu.

Após a semifinal dos 100m peito feminino, em que Ruta Meilutyte mostrou grande superioridade, ninguém esperava que ela fosse perder o ouro. Mas a jamaicana Alia Atkinson tinha escondido o jogo, e com filipinas ainda melhores que da lituana, igualou o recorde mundial da rival com 1min02s39.  É a primeira nadadora negra em 40 anos a deter um recorde mundial individual. No ano passado, no Mundial de Barcelona, em piscina longa, as mulheres do nado peito deram show, com recordes mundiais em todas as provas. E Atkinson não estava entre elas. É mais uma que desponta no estilo que mais evolui na natação feminina.

É até difícil avaliar o impacto do recorde de 22s22 nos 50m costas de Florent Manaudou, quase um segundo à frente do americano Eugene Godsoe, medalhista de prata. Mas podemos tentar: o recorde anterior, do americano Peter Marshall, de 22s61, de 2009, era um segundo acima da marca mundial dos 50m borboleta. E, com o tempo de Manaudou, ele teria vencido os 50m borboleta em todos os mundiais de curta até 2012. É talvez o recorde mais impressionante da competição até agora. Por isso, até Cesar Cielo, em entrevista após a semifinal dos 100m livre, disse acreditar que o francês nadará na casa dos 44s na final dos 100m livre amanhã

Em grande forma, era esperado que Katinka Hosszu superasse o recorde mundial dos 200m medley. Ainda mais que nessa competição ela tem mostrado mais velocidade que resistência, sob medida para a prova. Com 2min01s86, supera em 27 centésimos sua marca anterior. Em menos de um ano e meio, é a quinta vez que abaixa o recorde, chegando incríveis quatro segundos à frente da segunda colocada, a britânica Siobhan-Marie O'Connor. Com seis medalhas, iguala-se às mulheres mais condecoradas em uma edição da competição, as australianas Lisbeth Trickett e Brooke Hanson, que também conseguiram seis pódios em 2004. Mas todas as medalhas de Katinka foram todas individuais, ao contrário das australianas. E a marca pode aumentar amanhã, quando ela nada os 50m costas e os 200m livre. O que pode fazer com que o último dia do Mundial seja ainda mais histórico.

Por Daniel Takata

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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