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Entrevista: Fernando Vanzella, o técnico do Brasil no Raia Rápida

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14/10/2017 19h30

Fernando Vanzella, treinador do SESI-SP e da seleção brasileira feminina, além de ter três Olimpíadas no currículo, está no Rio de Janeiro acompanhando a equipe brasileira que amanhã irá disputar o Desafio Raia Rápida.

Vanzella tem duas atletas na equipe, Daynara de Paula (borboleta) e Etiene Medeiros (costas), além dos reservas Raphael Rodrigues (peito) e Clarissa Rodrigues (borboleta). Ele falou com a Swim Channel sobre a expectativa para o evento e garante: o Brasil é favorito ao tetracampeonato.

Fernando Vanzella (foto: Satiro Sodré/SSPress)

É sua primeira vez no Raia Rápida. É um evento diferente, em que atletas de diferentes países passam alguns dias juntos, sem a pressão de uma grande competição. Como está sentindo o clima do evento?

Fiquei muito contente de estar aqui. Já conhecia pela televisão e o sistema da competição me agrada bastante. É bem atrativo para o público e para a mídia. Lá fora tem algumas coisas parecidas, por exemplo na série de GP dos Estados Unidos no ano que vem haverá algumas provas diferentes, algo do tipo. Aqui, os atletas, apesar do clima descontraído, querem ganhar. Nos últimos dias até senti que meus atletas já estão passando a ficar mais focados, mentalizando a disputa mesmo. Mas realmente tem esse clima descontraído. Tanto que acabei de ver uma foto dos atletas na praia. Isso nunca vai acontecer na véspera de uma competição internacional. A presença de atletas de outros países é importante, a fórmula da competição, transmissão por televisão, tem vários atrativos, então estou bem contente de estar participando.

Como avalia uma competição como o Raia Rápida no calendário nacional? Acredita que é possível fazer algo do tipo virar uma competição oficial? Falta algo assim no Brasil?

Acho que faltam competições assim não só no Brasil, mas na América do Sul. O sistema de competições do Brasil há muito tempo é o mesmo, Maria Lenk, Finkel, Open, etc. O esporte evolui, a mídia, a forma de comunicação, tudo evolui, e a natação tem que acompanhar isso. Existe uma possibilidade de ao menos um campeonato desses oficiais ter um formato diferente. Não necessariamente como o Raia Rápida, mas algo diferente. Pode ser na época do Open, em um mês de dezembro, em que não há grandes competições lá fora. Pode até atrair gente de fora para nadar aqui. Ajudaria bastante a divulgação e popularização da natação.

Acha que em competições desse tipo as premiações em dinheiro são essenciais para garantir o sucesso?

O dinheiro ajuda bastante. A natação tem seu lado comercial e profossional. É uma motivação externa, não interna, que é a que vai gerar o resultado. Mas a externa, como a premiação em dinheiro, contribui muito. Acho que é preciso ter mais competições assim. Os GPs nos EUA, os meetings na Europa, Copas do Mundo, todas têm premiação em dinheiro. Estimula para que os atletas tenham uma longevidade. Hoje você tem atletas por mais tempo do que anos atrás. Um exemplo é o Anthony Ervin, que está aqui no Raia Rápida e foi campeão olímpico aos 35 anos. E isso se deve à profissionalização. Quem ganha é o esporte. Claro que a prioridade deve ser o valor do esporte, a conquista, a disputa. Mas premiações em dinheiro sem dúvida são importantes.

Falando nisso, como é tratado o assunto da divisão da premiação em dinheiro entre atleta e treinador? Oficialmente o dinheiro vai todo para o atleta, mas existe uma prática para essa divisão?

Não existe uma regra fixa. Tem atletas que sentam com os treinadores e combinam isso, por exemplo o repasse de um percentual do prêmio, por exemplo 10, 15, 20%. A realização é do atleta, mas é resultado de todo um trabalho de uma equipe, muitas vezes não só do treinador. Existem atletas que têm essa consciência e entendem que um percentual da premiação deva ser dividido com a equipe técnica, e outros entendem que não precisam dividir. Eu respeito todas as decisões. Tudo que é bem combinado não gera problema. Quando as premiações passam a acontecer com alguma frequência, essa conversa é natural entre o atleta e o treinador. Uma vez alinhado, as coisas fluem bem. O que não pode acontecer, e que já ocorreu comigo no início, é combinar algo e isso não ser cumprido, o que gera um desconforto na relação.

O Raia Rápida esse ano tem esse formato misto, com homens e mulheres. Como avalia essa mudança em relação às edições anteriores?

Achei muito bacana colocar as meninas. Foi uma conquista da natação brasileira feminina pelo resultado que elas vêm obtendo. Talvez há alguns anos seria mais difícil colocar nadadoras do país competitivas em uma competição como essa. Hoje temos resultados que credenciam o Brasil a ganhar a competição. Temos a Etiene, campeã mundial dos 50m costas, e a Daynara, que já foi finalista de Mundial nos 50m borboleta. É fruto de um trabalho de longo prazo. Começou lá atrás em 2012 com a ideia de fazer algo pela natação feminina. E a natação funciona muito assim. Vamos ver o resultado daqui alguns anos, não é tão imediato.

Etiene Medeiros e Fernando Vanzella (foto: Satiro Sodré/SSPress)

Falando da Daynara e da Etiene, como elas chegam para essa competição, depois de um ano bastante intenso?

No início do ano elas tiveram umas boas férias para compensar os últimos anos muito cansativos. Elas não são nadadoras tão novas, então a ideia era descansar para suportar mais um ciclo olímpico. Depois fizemos uma programação que terminou no Finkel, em agosto, logo após o Mundial, e a Daynara ainda foi para a Universíade em Taiwan. Depois disso elas tiraram apenas alguns dias de descanso e voltaram aos treinamentos. Fizemos treinos de muito volume e intensidade e elas estavam bem cansadas até a semana passada. Depois disso mudamos a etapa da preparação e agora estão tendo estímulos de competição. Semana passada fizemos uma simulação de competição no Maria Lenk, agora tem o Raia Rápida, depois um regional em São Paulo, duas etapas da Copa do Mundo, o Open e o Mundial Militar. Então vai começar a fase de competições. E no Raia Rápida vai ser interessante porque tem essa fórmula de uma prova atrás da outra e vamos conseguir avaliar bem a condição delas. Como elas já estão tendo estímulos de competição, pode ser que consigam tempos bem interessantes.

Para terminar: o Brasil é o grande favorito?

Ah com certeza. As outras equipes têm grandes nadadores, o Ervin é campeão olímpico, o italino Fabio Scozzoli foi vice-campeão mundial. Mas nossa equipe é muito forte. A Etiene campeã mundial, Bruno [Fratus] e João [Gomes Júnior] medalhistas no Mundial, a Daynara está muito motivada… Não vou arriscar em quatro vitórias individuais, mas acredito em pelo menos duas ou três, além é claro do revezamento!

Por Daniel Takata

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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