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Ana Marcela Cunha, campeã do mundo. De novo?

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16/07/2019 23h13

Apresentador de noticiário esportivo: "E logo mais, não perca: Ana Marcela Cunha é campeã mundial de águas abertas!"

Telespectador: "Legal. O que vou jantar hoje?"

O ocorrido descrito acima pode muito bem ter acontecido em muitos lares brasileiros hoje, após a brasileira ter conquistado o título mundial dos 5 km no Mundial de Esportes Aquáticos da Coreia do Sul.

E não porque o telespectador em questão desmereça o feito da nadadora.

Mas porque muitos já têm a impressão de que Ana Marcela Cunha conquistar um título mundial é algo tão corriqueiro como escolher o que comer em uma refeição.

"Tá, ela é campeã do mundo. E daí? Ela é campeã do mundo toda hora!"

Não é para menos. Acompanhe abaixo os títulos de nível mundial que Ana Marcela venceu na carreira:

2010: Título do Circuito Mundial de maratona aquática da FINA
2010: Melhor nadadora do mundo pela FINA
2011: Campeã mundial nos 25 km
2012: Título do Circuito Mundial de maratona aquática da FINA
2014: Título do Circuito Mundial de maratona aquática da FINA
2014: Melhor nadadora do mundo pela FINA
2015: Campeã mundial nos 25 km
2015: Melhor nadadora do mundo pela FINA
2017: Campeã mundial nos 25 km
2017: Melhor nadadora do mundo pela FINA
2018: Melhor nadadora do mundo pela FINA
2018: Título do Circuito Mundial de maratona aquática da FINA
2019: Campeã mundial nos 5 km

A lista é impressionante por si só.

Mas não mostra aquela que talvez seja sua principal característica: a incrível capacidade de se reinventar.

Ana Marcela Cunha, ao final dos 5 km (foto: Satiro Sodré/rededoesporte.gov.br)

É o perfeito exemplo de uma pessoa antifrágil, conceito difundido pelo matemático e professor universitário Nassim Taleb em seu livro Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos.

Uma pessoa resiliente é aquela que, ao passar por crises, tem a capacidade de retornar ao estágio anterior e não se deixar abalar.

Uma pessoa antifrágil, por outro lado, não só tem essa capacidade, como sempre melhora rapidamente ao enfrentar uma situação inesperada.

São inúmeros os exemplos.

No Mundial de 2011, Ana Marcela terminou os 10 km na 11ª posição e perdeu a vaga para a Olimpíada de Londres.

Após tamanha decepção, sabendo que não poderia disputar a principal competição de sua vida, voltou dias depois para conquistar o título mundial dos 25 km, na mesma competição.

E ainda venceu o Circuito Mundial no ano olímpico.

Em 2016, escolhida melhor nadadora do mundo no ano anterior, saiu frustrada da prova olímpica de 10 km no Rio de Janeiro, em um desempenho aquém das expectativas.

Mergulhou a cabeça na água e nos treinos e saiu do Mundial de 2017 com três medalhas, sendo coroada no final do ano como a melhor nadadora de águas abertas do mundo.

E sua antifragilidade pôde ser observada novamente no Mundial da Coreia do Sul.

Após terminar os 10 km na sexta posição, garantiu vaga olímpica, mas não saiu nada contente.

Sabia que podia até ter vencido a prova.

Frustrou-se, recolheu-se e digeriu o que aconteceu.

Precisou de apenas três dias para voltar mais forte.

Na prova de hoje de 5 km, teoricamente sua mais fraca entre as três distâncias de águas abertas, adotou estratégia perfeita.

Se ao fim da prova de 10 km foi encaixotada pelas adversárias, hoje soube evitá-las com maestria.

Ana Marcela Cunha e seu ouro dos 5 Km (foto: Satiro Sodré/rededoesporte.gov.br)

Quanto às marcas que ela alcançou com a vitória, fique à vontade para escolher a de sua preferência:

  • Ela é a nadadora a conquistar mais medalhas em provas femininas de águas abertas em Mundias de Esportes Aquáticos – 10, deixando para trás a holandesa Edith van Dijk que tem nove.
  • Também é a maior vencedora da história, quatro ouros, empatada com a italiana Viola Valli.
  • É a única, entre homens e mulheres, a conquistar medalhas nas águas abertas em todas as edições dessa década – 2011, 2013, 2015, 2017 e 2019.
  • Subindo ao pódio em cinco Mundiais de Esportes Aquáticos consecutivos, iguala a marca obtida anteriormente somente pelo alemão Thomas Lurz e pelo grego Spyridon Gianniotis – talvez os dois maiores nadadores de águas abertas da história.
  • Em 2010, ela conquistou uma medalha no extinto Mundial de Águas Abertas, exclusivo da modalidade. Contando essa medalha, são 11 em Mundiais, mais do que qualquer outra brasileira – em qualquer esporte!

E esses são feitos referentes somente à conquista de hoje

Se listarmos seus recordes relacionados ao Circuito Mundial e outras competições, talvez o texto exceda o número de caracteres permitidos para publicação neste site.

Ana Marcela Cunha, campeã mundial.

Uma notícia tão corriqueira como escolher uma refeição.

E a vitória é a refeição preferida de Ana Marcela.

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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