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Etiene e Marcelo: quando a medalha não é tudo

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25/07/2019 17h25

Pare e pense: o que têm em comum as provas nadadas por Etiene Medeiros e Marcelo Chierighini, hoje, no quarto dia das finais da natação do Mundial de Esportes Aquáticos, em Gwangju, na Coreia do Sul?

Aparentemente nada, pode-se pensar.

Etiene conquistou a medalha de prata nos 50m costas.

Etiene Medeiros (foto: Satiro Sodré/rededoesporte.gov.br)

Marcelo, por outro lado, não escondeu a frustração ao ficar fora do pódio dos 100m livre.

É a terceira medalha consecutiva de Etiene em sua prova.

Marcelo vem, desde 2013, chegando à final dos 100m livre e batendo na trave na briga por medalhas.

O resultado de Marcelo, no entanto, deixa uma boa perspectiva para a Olimpíada do ano que vem, em Tóquio.

A prova de Etiene, por sua vez, não consta no programa olímpico.

No entanto, os resultados guardam muitas semelhanças.

A começar que ambos chegam à final de suas especialidades desde o Mundial de 2013, em Barcelona.

Em Gwangju, foram os únicos a disputarem as finais de suas provas pela quarta vez consecutiva.

Essa longevidade na elite da natação mundial diz muita coisa.

Marcelo Chierighini (foto: Satiro Sodré/rededoesporte.gov.br)

Em um dia perfeito, Etiene hoje teria conquistado a medalha de ouro, e Marcelo, subido ao pódio.

Mas a medalha não é tudo.

Talvez o resultado pudesse, sim, ter sido melhor.

Etiene já nadou três vezes em sua vida mais rápido do que o tempo necessário para a medalha de ouro hoje.

Se Marcelo tivesse repetido sua marca da semifinal, teria conquistado a medalha de bronze.

Mas o que vale não são apenas os resultados, mas suas trajetórias.

Em geral, fazemos as coisas por recompensas. Muitas vezes, se as recompensas não vêm, ficamos decepcionados e perdemos interesse pelo trabalho.

Essa não é uma abordagem adequada.

Etiene e Marcelo sabem disso.

Claro, resultados aquém do esperado podem causar chateação.

Mas, em geral, há demora entre as ações e as recompensas.

As recompensas não acontecem de maneira determinística. Elas dependem de muitos parâmetros fora de nosso controle.

Etiene e Marcelo não podem controlar o que acontece com seus adversários.

Tivesse Olivia Smoliga feito uma ondulação a menos na saída, talvez Etiene estivesse agora com a medalha de ouro.

O mesmo se aplica aos rivais de Marcelo e uma eventual subida ao pódio.

Marcelo Chierighini (foto: Satiro Sodré/rededoesporte.gov.br)

Por isso, avaliar o resultado somente pela conquista ou não de uma medalha está longe de ser o ideal.

A linha que se encontra entre a satisfação e a frustração não deveria ser representada pelo desempenho de um rival que o separou de uma medalha.

O desafio é conseguir fazer o processo de tornar o esforço a fonte primária de felicidade e satisfação.

Ora, vejam:

Etiene Medeiros tem três medalhas em Mundiais de longa nos 50m costas, sendo uma de ouro, e um bicampeonato mundial em piscina curta.

Além disso é finalista olímpica e medalhista em Mundial de curta nos 50m livre, prova que ainda irá nadar nesse Mundial com boas perspectivas.

Marcelo Chierighini é um dos mais regulares nadadores do mundo nos 100m livre, com quatro finais em Mundiais e uma final olímpica.

Entre 2013 e 2018, ficou por pouco de chegar ao pódio das principais competições.

Tivesse ele interesse somente na recompensa, ou seja, na medalha, teria ele interesse e força para continuar trabalhando duro por tanto tempo?

Neste ano, subiu de nível, entrou no clube sub-48s, nadou quatro vezes na casa dos 47s e está tendo a melhor temporada da carreira.

A medalha não saiu por um detalhe.

Mas alguém duvida de que nadadores com tais trajetórias estejam de corpo e alma, no aqui e agora, o tempo inteiro, dia após dia?

Foi assim que Marcelo subiu um patamar em 2019. Foi assim que Etiene se tornou referência do esporte feminino.

E é com essa abordagem que devem continuar encarando o esporte e a vida.

Dessa maneira, chegarão credenciados como grandes nomes aos Jogos Olímpicos do ano que vem.

Até lá, é apreciar cada momento e seguir em frente, como sempre fizeram – e como deixou claro Etiene em sua irretocável entrevista para o SporTV após a prova.

E saber quais são as prioridades e a importância delas.

Por Daniel Takata

Etiene Medeiros (foto: Satiro Sodré/rededoesporte.gov.br)

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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