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O Michael Phelps do Oriente

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16/04/2013 14h00

O japonês Kosuke Hagino é um rapaz discreto. Não é alto (1,75m), é magro e tímido. Nos Jogos Olímpicos de Londres, na entrevista coletiva dos 400m medley, ao lado dos experientes e consagrados Ryan Lochte e Thiago Pereira, sua presença mal era notada. Tanto que nenhum repórter lhe dirigiu pergunta alguma.

Mas toda essa aparente insegurança some quando ele entra em uma piscina. Ele não estava ao lado de Lochte e Thiago a toa: aos 17 anos, havia acabado de conquistar o bronze olímpico, à frente inclusive de seu herói, Michael Phelps.

Kosuke Hagino, ao lado de Ryan Lochte e Thiago Pereira com suas medalhas em Londres

Agora, ao que parece, ele terá que se acostumar a ser um dos centros das atenções. Pela sua juventude, imaginava-se que em breve ele brigaria pelo topo do mundo nas provas de medley. Mas poucos acharam que isso aconteceria tão cedo e, principalmente, também em outras provas.

Ele já está sendo chamado de "Michael Phelps do Oriente", por causa da sua habilidade de nadar muitas provas em altíssimo nível. Hagino nadou o Campeonato Japonês, que terminou esse domingo, e foi disparado o maior destaque. Melhorou os recordes asiáticos em suas especialidades, 200m e 400m medley (1min55s74 e 4min07s61 respectivamente, tempos que lhe dariam um bronze e uma prata olímpicas, esta última à frente de Thiago). Mas o que surpreendeu foi sua performance nas outras provas. E não foram poucas.

Nos 400m livre, com 3min45s42, fez o segundo melhor tempo do ano, atrás somente atrás do chinês Sun Yang, o campeão olímpico da prova. Nos 200m livre, fez 1min46s28, um tempo que por enquanto não ameaça os melhores do mundo, mas lhe daria uma final olímpica. O detalhe é que, meia hora depois dessa prova, nadou os 100m costas e com 53s10, segundo melhor tempo do ano, derrotou Ryosuke Irie, medalhista de bronze olímpico. Cansado, no último dia foi derrotado por Irie nos 200m costas, mas com um tempo que também lhe daria uma final olímpica.

Com cinco vitórias, Hagino conseguiu um feito inédito: jamais um nadador havia vencido tantas provas em uma edição do Campeonato Japonês. Tomoko Hagiwara e Takeshi Matsuda eram os antigos recordistas, com quatro.

Kosuke Hagino no borboleta

É interessante imaginar o que ele poderá fazer se mantiver a evolução. A expectativa já é alta para o Mundial de Barcelona, em julho. Nadará ele todas as provas em que se classificou? Se fizer isso, seu programa de provas será o seguinte:

Dia 1, eliminatória: 400m livre
Dia 1, final: 400m livre
Dia 2, eliminatória: 100m costas, 200m livre
Dia 2, semifinal: 100m costas, 200m livre
Dia 3, final: 100m costas, 200m livre
Dia 4, eliminatória: 200m medley
Dia 4, semifinal: 200m medley
Dia 5, eliminatória: 200m costas
Dia 5, semifinal: 200m costas; final: 200m medley
Dia 6, final: 200m costas
Dia 8, eliminatória: 400m medley
Dia 8, final: 400m medley

Isso totaliza 3.700 metros. Para se ter uma ideia, Michael Phelps, em sua campanha em Pequim/2008 pelas oito medalhas de ouro, nadou 3.300 metros, contando revezamentos. Hagino também poderá nadar o 4x200m livre e o 4x100m medley, aumentando ainda mais esse total.

Não é de praxe o Japão apresentar ao mundo nadadores versáteis. Como especialistas em seus nados, os japoneses frequentemente estão entre os melhores do mundo, como os medalhistas olímpicos Satomi Suzuki e Kosuke Kitajima (peito), Aya Terakawa e Ryosuke Irie (costas) e Natsumi Hoshi e Takeshi Matsuda (borboleta), só para ficar nos mais recentes.

Mas Hagino foi o primeiro japonês da história a conquistar uma medalha olímpica no nado medley masculino, tipo de prova que exige versatilidade em sua definição. Em um país com tanta tradição na natação (voltaremos à rica história aquática japonesa em outro post), uma hora certamente um fenômeno desse poderia surgir. Michael Phelps teve sua primeira grande competição internacional como múltiplo medalhista e recordista no Campeonato Mundial de 2003. Seria incrível e até poético se Kosuke Hagino conseguir o mesmo em Barcelona, exatamente o mesmo local da consagração de Phelps há 10 anos.

 Por Daniel Takata

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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