Chegar ao topo é difícil, mas manter-se lá...

Em muitas das provas ocorridas nos Jogos Olímpicos de Londres, o vencedor não tem o status de ser indiscutivelmente o melhor daquela prova. Você diria que Nathan Adrian, ouro nos 100m livre, é certamente melhor que James Magnussen? Que Chad Le Clos, vencedor dos 200m borboleta, era melhor que Michael Phelps? Que Florent Manaudou é com certeza mais rápido que Cesar Cielo? No entanto, uma das provas em que a supremacia de uma nadadora sobre as outras foi mais evidente foi no 200m costas feminino. Missy Franklin é indiscutivelmente a melhor nadadora da prova. Hoje, no Campeonato Americano, seletiva para o Mundial de Barcelona, provou isso ao vencer a prova com melhor tempo do mundo com 2min05s68 , isso após ter vencido os 200m livre com 1min55s56. Nessa última prova, os Estados Unidos têm a campeã olímpica, Allison Schmitt, que não está nos seus melhores dias e sequer se classificou para a final A. Ela ainda nadará os 400m livre, mas parece pouco provável que conseguirá se classificar para o Mundial de Barcelona.

A versão feminina de Franklin foi Ryan Lochte, que apesar de também não estar na sua melhor forma, ainda é Ryan Lochte. Vencedor de quatro provas no Mundial de 2011, hoje assegurou sua vaga em duas delas, os 200m livre e 200m costas, vencendo ambas e nessa última derrotando o campeão olímpico da prova Tyler Clary.

Ryan Lochte

Colunistas do UOL

Mas, apesar das vitórias destes multi-medalhistas olímpicos, o destaque foi um nadador que nunca participou de Mundiais de piscina loga ou Olimpíadas. Kevin Cordes havia assombrado o mundo da natação em março deste ano, quando, nadando no NCAA, o Campeonato Universitário dos Estados Unidos, destruiu os recordes americanos das 100 e 200 jardas nado peito. Nas 200 jardas, se tornou o primeiro abaixo de 1min50s com um inacreditável 1min48s68 (o recorde anterior era dele mesmo, com 1min50s73), que convertendo para piscina de 50 metros resultaria num teórico 2min04s63 (o recorde mundial é 2min07s01). As tabelas de conversões são controversas, mas dá para ter uma ideia do feito de Cordes.

Hoje, com 2min08s34, venceu em Indianápolis, fez o melhor tempo do mundo em 2013 e assegurou sua vaga para Barcelona. Provavelmente ele chegará ao Mundial como dono da melhor marca do mundo da temporada. Na marca dos 100 metros, estava meio segundo abaixo da parcial do recorde mundial, que pertence ao japonês Akihiro Yamaguchi. Na volta, não segurou o mesmo ritmo. Não se pode dizer que ele morreu, pois a segunda metade de prova de Yamaguchi é que foi espetacular. Mas sem dúvidas ele cansou e talvez uma melhor divisão de prova possa lhe render um 2min07s em Barcelona e a possibilidade de brigar pelo recorde.

Kevin Cordes

O que nos deixa com um cenário muito interessante. Yamaguchi bateu o recorde mundial em setembro do ano passado, após os Jogos Olímpicos (ele não nadou em Londres) e será um dos favoritos em Barcelona. Cordes, com suas performances em 2013, também aparece como um dos candidatos ao ouro (ele também não nadou em Londres). O húngaro Daniel Gyurta, atual campeão olímpico e mundial, terá uma concorrência fortíssima de dois nadadores contra os quais ele nunca nadou em grandes competições.

O 200m peito masculino mostra que o ciclo olímpico em direção a 2016 definitivamente já começou e ninguém pode se acomodar em suas glórias conquistadas no ano passado. Jovens como Cordes e Yamaguchi fazem história sem mesmo ter disputado os Jogos Olímpicos, ameaçando a supremacia de quem por lá esteve. Mesmo os condecorados Missy Franklin e Ryan Lochte sabem disso e tiveram que nadar tudo que sabem para garantir suas vagas na seleção americana contra jovens sedentos. E a campeã olímpica Allison Schmitt foi atropelada por quem ela havia vencido de longe no ano passado. O clichê de que é difícil chegar ao topo, mas mais difícil é se manter nele nunca foi tão verdadeiro.

Por Daniel Takata