Ressaca olímpica

Na maioria esmagadora dos países, nadadores que tenham sido destaque nos Jogos Olímpicos em geral são absolutos. Isso quer dizer que, nas seletivas de seus países para o Mundial de Barcelona, esses nadadores não precisaram mostrar tudo que sabem. Por isso, provavelmente ainda não vimos este ano o total potencial de nadadores como Ranomi Kromowidjojo, Sun Yang, Chad Le Clos, Cameron Van Der Burgh, Shiwen Ye, Ryan Cochrane, Daniel Gyurta, Laszlo Cseh, Aleksandra Herasimenia e muitos outros. Por isso, não sabemos quem está bem e quem está mal. Resumindo, não dá para saber quem ainda está na ressaca olímpica.

Isso não acontece nos Estados Unidos – e em alguns poucos países, como Austrália, Japão e França (em algumas provas). Na seletiva americana para o Mundial, que está ocorrendo em Indianápolis, mesmo nadadores medalhistas olímpicos precisam estar na melhor forma, ou próximo disso, para garantir vaga em Barcelona. A concorrência é grande. Com isso, temos um verdadeiro parâmetro da situação dos norte-americanos. E os resultados, principalmente de hoje, mostram que muitos ainda estão curtindo a ressaca.

Ontem, vimos Allison Schmitt, campeã olímpica dos 200m livre, sequer se classificar para a final e não irá nadar a prova em Barcelona. Hoje, Elizabeth Beisel, que já foi recordista mundial dos 400m medley, foi prata em Londres e era totalmente absoluta na prova nos Estados Unidos, foi derrotada por Maya Dirado. Ao menos ficou na segunda posição e irá para o Mundial. No masculino, Tyler Clary por muitos anos foi o terceiro melhor nadador americano da prova, atrás de Michael Phelps e Ryan Lochte. Sem esses dois, ele estaria garantido, certo? Errado, pois também vem piorando seus tempos e não está na mesma forma que lhe deu o ouro olímpico nos 200m costas. Hoje, ficou em segundo nos 400m medley, atrás de Chase Kalisz (que treina com Bob Bowman, mentor de Michael Phelps).

Dana Vollmer (com a touca cinza)

Nos 100m borboleta, Dana Vollmer é a atual campeã olímpica e recordista mundial, mas ficou um segundo e meio acima de seu tempo obtido em Londres. Sorte dela que está muito à frente das adversárias e conseguiu a vitória, mas mostrou vulnerabilidade e em Barcelona ela não chegará tão favorita. Na versão masculina, a prova estava em aberto com a aposentadoria de Michael Phelps, campeão olímpico e recordista mundial. A expectativa estava sobre Tyler McGill, que nadou em Londres e nos últimos anos vinha sendo o segundo melhor nadador do país. Era o principal candidato a substituir Phelps, ao menos nessa prova. Mas ele ficou somente na quarta posição, com Eugene Godsoe e Ryan Lochte garantindo as vagas para Barcelona. Será a primeira vez que Lochte nadará a prova em uma grande competição internacional, confirmando sua versatilidade (já nadou provas de livre, costas e medley).

Quanto a Godsoe, ele é um atleta curioso. Está tendo a melhor competição de sua vida aos 25 anos (já havia vencido os 50m borboleta). Para quem não se lembra, ele esteve no Brasil duas vezes no ano passado. Nadou o Troféu Maria Lenk pelo Flamengo e voltou para nadar o Desafio Raia Rápida. Godsoe estudou psicologia e se formou em 2010 na Universidade de Stanford, tida como a segunda melhor do mundo, atrás somente da Universidade de Harvard. Ou seja, ele teve que estudar muito e muita dedicação foi necessária para conciliar com a natação de alto nível. Mas incrivelmente ele ainda encontrava tempo para exercitar suas habilidades como músico – ele toca piano e com o também nadador Greg Pearsall forma a dupla com o sugestivo nome de "Take Your Mark". Apesar de ter uma idade relativamente avançada (terá quase 30 anos em 2016), almeja os próximos Jogos Olímpicos e seus resultados mostram que estará no páreo. Por não ter competido em Londres, ele não está na ressaca olímpica e é um dos que vêm com motivação nova em folha para desbancar quem nadou a última Olimpíada.

Veja abaixo o último vídeo da dupla Take Your Mark. Eugene Godsoe está no piano elétrico, de camiseta azul, e também faz os backing vocals do belo cover da música Wagon Wheel, da banda americana Old Crow Medicine Show.

Por Daniel Takata