Henrique Rodrigues: o céu é o limite

Nadar abaixo dos dois minutos nos 200m medley é tarefa para poucos. Definitivamente não é para qualquer um. Se hoje é difícil, imagine há alguns anos.

Em 2008, somente 20 homens conseguiram nadar abaixo da marca. Um deles foi Thiago Pereira, que está entre os melhores do mundo desde 2004. O outro, uma surpresa à época, também era brasileiro.

Henrique Rodrigues assombrou a natação nacional no Open de Florianópolis, do final de 2008. Então uma jovem revelação, melhor nadador da categoria junior do ano anterior, entrou na competição com o melhor tempo de 2min03s52, atrás de nadadores de mais renome como Diogo Yabe e André Schultz. Uma melhora era esperada, pois era jovem (tinha 17 anos) e vinha em constante melhora (sua melhor marca em 2007 havia sido 2min06s). Pois o que ele fez foi inacreditável: com 1min59s69, entrou no top 20 do raking mundial e conquistou índice para o Mundial de Roma, que seria realizado em 2009.

Henrique Rodrigues, no Open de 2008 em Florianópolis

O espanto que ele causou naquela ocasião ele repetiu no último mês de abril, no Troféu Maria Lenk. Desde 2008, ele vem sendo o segundo melhor nadador do Brasil na prova, mantendo uma regularidade impressionante. Reparem nos seus melhores tempos de cada ano: 2009 1min59s21; 2010 1min59s00; 2011 1min59s02; 2012 1min58s91. Com essas marcas, se consolidou como um dos melhores do mundo – foi semifinalista da prova na Olimpíada de Londres, bronze nos Jogos Pan-Americanos de 2011 e quarto colocado no Mundial de Curta de 2010.

Para um nadador já com 22 anos, uma melhora de décimos e até centésimos seria muito comemorada. Mas, no Troféu Maria Lenk citado, em uma batalha feroz contra Thiago Pereira, deixou o medalhista olímpico para trás e, mais do que isso, melhorou mais de um segundo e meio: seu 1min57s37 é o terceiro melhor tempo do ano. Só perde para o americano Ryan Lochte (1min55s44) e para o japonês Kosuke Hagino (1min55s74). Em provas olímpicas, não é Thiago e nem Cesar Cielo o melhor brasileiro de 2013. É Henrique Rodrigues.

Comemorando no Troféu Maria Lenk de 2013

"Em Barcelona, ao lado de grandes adversários, penso sim em uma possível medalha", disse Henrique à Swim Channel. Essa expectativa é totalmente justificada, pois em 2013 todos os países já realizaram suas seletivas para o Mundial e somente dois nadadores fizeram tempos melhores que ele. Além disso, seu tempo lhe daria o 5º lugar na Olimpíada de Londres. "Mas tenho que trabalhar cada etapa separadamente (eliminatória, semifinal e final)." Realmente, não adianta colocar o carro na frente dos bois.

Natural de Curitiba, Henrique peregrinou nos últimos anos. Defendeu o Minas Tênis Clube, Pinheiros, Flamengo e Fluminense. Em 2011, chegou a treinar no PRO16, o grupo de elite formado por Cesar Cielo. No meio do ano, deixou o projeto e voltou para Curitiba, onde passou a ser treinado por Antonio Henrique Barbosa. Em 2012, foi comandado por Fernando Vanzella. Este ano, voltou para o Pinheiros. Muitos creditavam à constate troca de treinadores o fato dele não melhorar seus tempos. Agora, treinando sob o comando de André Ferreira, o Amem, se encontrou.

"Atribuo a melhora que tive à parte física e a correção da técnica, mas tive um ganho bem grande na parte mental, como trabalhar e usar melhor meu corpo (consciência corporal)", conta Henrique. "Trabalhei muito em cima de objetivos e metas traçadas pelo Amem e a equipe do Pinheiros.O preparo físico foi modificado também, assim conseguimos desenvolver um trabalho eficiente e de excelente qualidade pra chegar nesse resultado."

E, claro, a rivalidade com Thiago Pereira ajuda. Faíscas saíram da piscina na prova do Troféu Maria Lenk, tamanha a disputa. "Com certeza ajuda, ter alguém de alto nível para competir. Mas o principal foi o trabalho feito pela equipe do Pinheiros."

Nos Jogos Olímpicos de Londres

Sua preparação está a todo vapor. "Venho focando no miolo da prova (costas e peito), pois tenho o borboleta e o crawl fortes. Trabalhando esse miolo, viso conseguir segurar as parciais fortes e sem gastar muita energia para conseguir fechar bem a prova." E a experiência de uma semifinal olímpica pode ser usada a seu favor. "Já sei como é, então não haverá surpresas para mim", diz ele, que por sua vez pretende surpreender seus concorrentes. "Por ser semifinalista, acho que não sou tão conhecido pelos adversários, mas eu os conheço."

Uma curiosidade: sabia que a primeira prova que o Brasil teve dois finalistas em um Mundial de Desportos Aquáticos foi uma prova de medley? Foi em 1982, quando Ricardo Prado conquistou o ouro e superou o recorde mundial dos 400m medley. Rojer Madruga também nadou aquela final e terminou na oitava posição. O sobrenome não engana: Rojer era irmão de Djan, um dos maiores nadadores da história do país e que também nadava muito bem provas de medley, tanto que foi finalista olímpico dos 400m em 1980.

O legado de Prado, Roger e Djan está em boas mãos. Thiago Pereira já é consagrado mundialmente, e Henrique Rodrigues já mostrou que pode chegar lá. Suas performances no Open de 2008 e no Maria Lenk de 2013 mostraram que ele é um daqueles nadadores capazes de surpreender o mundo. Ele adoraria fazê-lo novamente em Barcelona. O céu é o limite.

Por Daniel Takata