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Entendendo o sistema de cronometragem do Mundial

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30/07/2013 09h37

A Omega é responsável pela cronometragem das provas de natação no Mundial de Barcelona. Mais do que isso, é responsável pela cronometragem dos Jogos Olímpicos desde 1932, mas não de maneira ininterrupta.

A credibilidade da Omega é algo indiscutível. Não há quem não queira contar com seu sistema. O preço é caro, obviamente. Mas no nosso esporte sua qualidade não tem concorrência.

Estive hoje com Peter Johann Hurzeler aqui em Barcelona, executivo da empresa, para tirar algumas dúvidas sobre o sistema. Há muitas questões como por que os tempos dos nadadores não são medidos em milésimos, ou por que um nadador pode queimar até 3 centésimos que não é desclassificado.

"O sistema tem a precisão de milésimos", disse ele, sobre a primeira questão. "No entanto, um milésimo corresponde a 1,7 milímetros. Quem pode garantir que cada placa tem a mesma espessura nessa precisão?" E relembrou de um caso clássico. "Nos Jogos Olímpicos de 1972, um sueco e um americano empataram em primeiro nos 400m medley, e a Omega desempatou, dando a vitória por dois milésimos para o americano. A FINA depois achou aquilo loucura, pois disseram que não podem construir uma piscina de 50 metros e que seja tão precisa até os milímetros. Depois disso, os milésimos nunca mais foram utilizados."

Sala de cronometragem da Omega, no Palau Sant Jordi

Quanto a margem para uma saída falsa de revezamento de 3 centésimos, ele justifica. "Pela precisão do sistema, o nadador ainda está no bloco 27 milésimos de segundo após o sistema ter recebido o impulso. Então a FINA decidiu por essa margem de 3 centésimos em favor dos atletas." E por que não adicionar três centésimos a todos os tempos de reação e fazer com que todas as reações negativas sejam saídas falsas? "Não seria o modo verdadeiro como o sistema funciona. Para nós, é melhor explicar esse fato, para evitar controvérsias e manter a transparência, e a FINA entende perfeitamente."

Além disso, para revezamentos e também eventuamente para provas individuais, câmeras são colocadas logo acima dos blocos, para trabalhar em conjunto com o sistema de cronometragem. "Uma câmera normal trabalha a 25 quadros por segundo. Estas, a 100 quadros por segundo. Logo, cada quadro representa um centésimo, que é a margem que trabalhamos na cronometragem." Na sala de cronometragem, essas imagens estão disponíveis. Ele me mostrou o vídeo da desclassificação do revezamento masculino espanhol 4x100m livre nas eliminatórias. A troca do nadador Markel Alberdi para Juan Miguel Rando foi de -8 centésimos. Em velocidade normal, é impossível notar a saída falsa. Quadro a quadro, no entanto, a irregularidade é absolutamente clara.

Saída falsa do revezamento da Espanha no 4x100m livre masculino

Sistema de câmeras colocado acima dos blocos de partida

Hurzeler disse que o episódio dos 100m livre nos Jogos Olímpicos de 1992, envolvendo Gustavo Borges, em que a placa de sua raia não funcionou e o resultado só foi confirmado depois, foi um escândalo. Naquela Olimpíada, a Seiko cuidava da cronometragem, e o episódio foi determinante para que a Omega se tornasse a empresa de cronometragem oficial dos Jogos Olímpicos a partir da Olimpíada seguinte, em 1996. "Erros como aquele são inadmissíveis."

Ele também relembra do Mundial de 2001, em Fukuoka, em que a Seiko também cuidou da cronometragem. Muitos problemas, incluindo o não funcionamento da placa do vencedor dos 100m livre Anthony Ervin (fazendo com que Pieter Hoogenband comemorasse muito o ouro e depois passasse pelo constrangimento de saber que não havia vencido) e problemas com desclassificações em revezamentos. "No 4x100m livre feminino, chegou-se ao cúmulo de fazerem a premiação no dia seguinte, pois não conseguiam determinar o resultado." Depois daquilo, a FINA trocou a Seiko pela Omega, e nunca mais passou por apuros semelhantes.

Em relação a clássica controvérsia da disputa dos 100m borboleta entre Michael Phelps e Milorad Cavic em 2008, em que o americano venceu por um centésimo, ele disse que o servo pode ter chegado primeiro, mas não com a força suficiente. "A placa tem 12 milímetros. Para parar o placar, ela tem que ficar com a espessura de 10 milímetros. Ou seja, a força tem que ser suficiente para apertá-la em 2 milímetros. Cavic chegou deslizando, então ele pode ter tocado primeiro, mas Phelps apertou primeiro a placa. Cavic entendeu que essa é a regra, e não houve problema com isso."

A Omega tem contrato com a FINA até 2020, e não há razão para achar que não continuará sendo o sistema oficial da natação mundial após isso.

Por Daniel Takata

Foto: divulgação

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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