Mundial Junior: a relevância histórica dos resultados de hoje

O Campeonato Mundial Junior começou hoje, em Dubai, com performances muito interessantes de brasileiros e atletas internacionais. Não iremos trazer resumos e detalhes da competição dia-a-dia, pois a Best Swimming e o Blog do Coach estão fazendo isso de maneira incessante, in loco, e são esses sites que recomendamos para ter acesso a resultados e análises praticamente em tempo real. Hoje, compararemos algumas marcas com tempos obtidos no passado por grandes nadadores. E os resultados atestam: o futuro da natação está em boas mãos.

A impressão que ficou deste primeiro dia foi o que já se esperava: será o mais forte Mundial Junior da história, competição que está em sua quarta edição e surgiu em 2006, no Brasil. A edição deste ano deveria ter sido realizada em Casablanca, no Marrocos, mas devido a restrições orçamentárias a sede foi alterada para Dubai. O que também está acontecendo são grandes performances dos jovens brasileiros, com várias melhores marcas pessoais, algumas finais e chances de medalhas.

É interessante comparar algumas fortíssimas marcas obtidas hoje com tempos de grandes atletas que não tiveram oportunidade de nadar esta competição, simplesmente porque ela não existia.

Nos 400m livre, o favorito era o britânico James Guy, que havia sido finalista no Mundial de Barcelona. Mas quem levou foi o australiano Mack Horton com 3min47s12. Não deixa de ser impressionante dois atletas de 17 anos para 3min47s, com tempos de finalistas mundiais. Mas tivessem eles nadado na época de Ian Thorpe, não teriam tido chance: com a mesma idade, o Thorpedo venceu os Jogos Olímpicos de Sydney em 2000 com 3min40s59, recorde mundial. E ele já havia vencido a prova no Mundial de 1998 aos 15 anos com 3min46s29. Ao menos, Guy e Horton têm tempos similares ao de Grant Hackett, um dos maiores fundistas da história, quando este tinha 17 anos (3min47s27 foi sua melhor marca em 1997).

Mack Horton (foto: Michael Dodge/Getty Images AsiaPac)

O americano Caeleb Dressel vem apavorando este ano e, aos 16 anos, foi finalista nos 100m livre na seletiva para o Mundial de Barcelona. Com a melhor marca de 49s28 nos 100m livre, hoje fechou o 4x100m livre com um impressionante 48s29. Para efeito de comparação, o australiano Cameron McEvoy hoje tem 19 anos e é considerado um dos fantásticos nomes da nova geração. Ele ficou na quarta posição nos 100m livre no Mundial de Barcelona, com 47s88. Por um ano, não compete em Dubai (ele nasceu em 1994, e no Mundial Junior nadam atletas nascidos de 1995 a 1998, no masculino). Mas em 2011 McEvoy tinha um tempo semelhante ao que Dressel tem hoje: 49s19. E na ocasião o australiano tinha 17 anos. Agora, Dressel também tem 17, e nem é preciso dizer que é considerado o futuro da velocidade nos Estados Unidos (o hoje campeão olímpico Nathan Adrian tinha 50s01 com a mesma idade).

Uma nadadora sobre quem não pairam dúvidas que é a mais rápida de todos os tempos em sua idade é a lituana Ruta Meiluyte. Isso porque, aos 16 anos, ela já é a recordista mundial dos 50m e 100m peito. Nem faz sentido dizer que ela tem um futuro brilhante, pois parece que ela já está no futuro. Em Dubai, hoje ela competiu a semifinal dos 50m peito e terminou com 30s04, mais de um segundo à frente da concorrência. Seu recorde mundial é 29s48, do Mundial de Barcelona, e dificilmente será quebrado. Mas se conseguir o feito, seria o primeiro recorde mundial da história do Campeonato.

Ruta Meilutyte (foto: Luis Gene/AFP)

Nos 400m medley feminino, a vitória foi para a americana Ella Eastin, com 4min40s02. Quando Joanna Maranhão tinha 17 anos, idade limite para o feminino nesta competição, ela fez 4min40s00 na Olimpíada de Atenas, marca que lhe daria o ouro hoje. Mas, por esse ponto de vista, também teria levado o ouro a chinesa Shiwen Ye, que no ano passado, aos 16 anos, bateu o recorde mundial com 4min28s43 (e também venceria com o tempo da final do Mundial de Barcelona deste ano, onde ficou na sétima posição, com 4min438s51, aos 17 anos).

O tempo de Vitor Guaraldo nos 100m costas, 55s59 na eliminatória, é o melhor tempo da história do Brasil nos 100m costas para sua idade (17 anos). Leonardo Guedes (55s85 em 2006) e Guilherme Guido (56s61 em 2004) tinham tempos próximos. O primeiro foi medalhista mundial junior e participou do Pan de 2007, e o segundo é recordista sul-americano e nadou a Olimpíada de 2008. Por isso grandes possibilidades se abrem para Vitor, a começar pela disputa da final amanhã, onde entra com o sexto tempo.

Grandes possibilidades tem também Pedro Cardona, que com 1min02s14 tem o quinto tempo da semifinal dos 100m peito. É também o melhor tempo da história do Brasil para sua idade (18 anos). Aos 18, Felipe Lima, medalhista de bronze na prova em Barcelona, tinha 1min03s76. E o sul-africano Cameron van der Burgh, atual campeão olímpico, tinha 1min03s00. Motivação portanto não falta para um grande resultado na final de amanhã.

Por Daniel Takata

Pedro Cardona na semifinal dos 100m peito (foto: Satiro Sodré)