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Ellen Gandy e as trocas de nacionalidades

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29/08/2013 14h17

Na semana passada, aconteceu o Campeonato Australiano de piscina curta, em Sydney, com alguns resultados interessantes. A maioria das estrelas que participaram do Mundial de Barcelona está de férias, mas mesmo assim alguns rápidos tempos foram observados.

O maior destaque foi Alicia Coutts, que conquistou três pratas em Barcelona. Em Sydney, venceu cinco provas (100m e 200m medley com recorde da Comunidade Britânica, 50m e 100m borboleta e 100m livre, e para mostrar versatilidade ainda foi prata nos 50m peito).

Outor grande destaque foi Ellen Gandy. Apesar de jovem (21 anos), está na elite da natação mundial há algum tempo e foi medalha de prata nos 200m borboleta no Mundial de 2011, em Xangai, perdendo o ouro para a chinesa Jiao Liuyang por apenas quatro centésimos.

Elen Gandy e sua prata no Mundial de 2011 (foto: Reuters)

Uma olhada em seus resultados não esconde sua nacionalidade: ela é britânica. O que estava fazendo então nadando o campeonato australiano?

Após resultados insatisfatórios nos Jogos Olímpicos de Londres, sofreu com a pressão de ter chegado como garota propaganda e favorita ao pódio e terminar fora até da semifinal de sua especialidade. Ela então resolveu mudar: escolheu representar a Austrália.

Em termos de deslocamento e treinamento, pouco mudou. Ela mora e treina em Melbourne desde 2008, quando seu pai foi transferido para lá a trabalho. Totalmente adaptada a seu técnico Rohan Taylor, pretende dar sequência aos bons resultados e mostrar que a Olimpíada foi somente um acidente de percurso.

No Australiano de curta, já deu mostras disso: com 2min02s88 nos 200m borboleta, bateu o recorde da Comunidade Britânica que pertencia a Jessicah Schipper. Nada mal para quem precisou ficar um ano afastada das competições, devido a regra da FINA para quem troca de nacionalidade. Voltou a competir na etapa de Eindhoven da Copa do Mundo, no início do mês.

Gandy espera se tornar mais um caso bem sucedido de nadadores que representaram bem mais de uma nação. Veja outros exemplos:

– Nina Zhivanevskaya: uma das pouquíssimas atletas a terem nadado cinco Olimpíadas, nasceu em Moscou. Chegou a representar quatro países, mas dois deles por motivos de força maior: antes de 1992, a ex-União Soviética. Na Olimpíada de 1992, a Comunidade dos Estados Independentes, que reunia repúblicas da esfacelada potência comunista. Em 1999, se mudou para a Espanha, se casou com um nativo (Francisco Medina, que também viria a ser seu treinador) e mudou de cidadania. Tem duas medalhas olímpicas, por dois países: bronze no 4x100m medley em 1992 pela CEI e nos 100m costas em 2000 pela Espanha. Foi o maior destaque espanhol no Mundial de Barcelona de 2003, quando venceu os 50m costas, a única medalha do país na competição na natação.

Nina Zhivanevskaya (foto: divulgação)

– Alena Popchanka: nascida na Bielo-Rússia, nadou quatro Olimpíadas e foi campeã mundial dos 200m livre em Barcelona-2003. Após os Jogos de Atenas-2004, se casou com o técnico francês Fred Vergnoux e trocou sua cidadania, tendo nadado a Olimpíada de 2008 pela França. Vergnoux é um dos grandes técnicos do cenário internacional e agora ambos vivem na Espanha, país pelo qual Vergnoux é head coach da seleção nacional e treinador da estrela Mireia Belmonte.

– Mike Alexandrov: nasceu na Bulgária e representou o país nas Olimpíadas de 2004 e 2008. Vivendo e treinando nos Estados Unidos, decidiu adotar a cidadania americana. Pela Bulgária, foi bronze no Europeu de 2007 em piscina curta nos 100m e 200m peito. Pelos Estados Unidos, foi ouro no 4x100m medley nos Mundiais de curta de 2010 e 2012. Este ano, após ficar em terceiro na seletiva americana para o Mundial de Barcelona nos 100m peito e não se classificar por muito pouco, postou uma espécie de desabafo no Facebook, como que respondendo aqueles que julgam besteira ele ter trocado de cidadania: "Sempre sou perguntado por que represento os Estados Unidos no esporte e na vida. A resposta: porque eu nunca teria desenvolvido meus talentos em outro lugar tão bem quanto tenho desenvolvido aqui."

– Gabrielle Rose: essa brasileira-americana tem uma história curiosa. Nasceu no Rio de Janeiro, mas, filha de pais americanos, morava nos Estados Unidos e falava melhor inglês que português. Escolheu representar o Brasil, país pelo qual nadou o Pan-Americano de 1995 (foi prata nos 100m borboleta) e a Olimpíada de 1996. Era a melhor nadadora do país na época, mesmo que não tivesse muita ligação com o país. Era acusada de ter escolhido o Brasil para representar por ser uma via mais fácil de nadar grandes competições internacionais. Mas ela mostrou que não era bem assim. Após 1997, escolheu representar os Estados Unidos. Na Seletiva Olímpica de 2000, nadou os 200m medley. Se classificou na 16ª posição para a semifinal e na 7ª para a final. Nadando na raia 1, terminou na segunda posição e carimbou passaporte para os Jogos de Sydney de forma dramática. Lá, foi finalista olímpica da prova e foi 7ª colocada. No Mundla de curta de 2002, em Moscou, foi prata nos 100m e 200m medley.

Gabrielle Rose, ao lado de Natalie Coughlin (foto: M. David Leeds/Getty Images)

– Sarah Poewe: nascida na África do Sul, nadou a Olimpíada de 2000 e terminou na agonizante quarta posição nos 100m peito, 30 centésimos atrás da compatriota Penny Henys, que foi bronze. No Mundial de Fukuoka-2001, pior: nova quarta colocação, desta vez por dois centésimos do pódio. Após os Jogos da Comunidade Britânica de 2002, decidiu passar a competir pela Alemanha  – já tinha dupla cidadania, pois seu pai era alemão, e inclusive frequentou uma escola alemã na África do Sul em seu ensino fundamental/médio. Mas o azar continuou: no Mundial de Barcelona-2003, ficou novamente na quarta posiçao nos 100m peito. Na Olimpíada de Atenas-2004, ficou na quinta colocação, a 37 centésimos do bronze. Ao menos pela Alemanha teve uma oportunidade que não teria tido na África do Sul: competir um revezamento olímpico em alto nível, e com isso conseguiu finalmente sua medalha olímpica: bronze no 4x100m medley.

– Arkady Vyatchanin: o russo, a rigor, ainda não faz parte desta lista. Bronze olímpico em 2008 nos 100m e 200m costas, se irritou com a falta de apoio da federação de seu país e decidiou que deste ano em diante não nada mais pela Rússia. Já está em seu período de um ano de inegibilidade procurando outro país para representar, tanto que não nadou o Mundial de Barcelona – na mesma época, nadou o US Open e fez um tempo que lhe daria a prata nos 100m costas.

Por Daniel Takata

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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