Qual é o limite do homem nos 50m livre?
Quando o jamaicano Usain Bolt assombrou o mundo ao pulverizar o recorde mundial dos 100 metros rasos no Mundial de Berlim, em 2009, com 9s58, chegou a um nível que poucos acharam que alguém alcançaria um dia. E inevitavelmente levantou a questão na cabeça de todos: qual seria o limite do ser humano na prova?
Muitas análises foram feitas, considerando o máximo de vento a favor permitido, um tempo de reação na largada perto da perfeição, uma corrida sem falhas. Um estudo feito pela Universidade de Stanford sugeriu que o menor tempo que um homem poderia correr a prova seria 9s48. O próprio Usain Bolt estima que o tempo limite é 9s40.

Usain Bolt iluminado por um raio, na histórica foto tirada durante o Campeonato Mundial de 2013, em Moscou (foto: Olivier Morin/AFP)
O site Track & Field News fez uma interessante análise antes dos Jogos Olímpicos de Londres. Se fosse possível juntar as melhores parciais da história em cada fase da prova dos 100 metros rasos, dividindo a prova a cada 10 metros, qual seria o tempo total? Bolt, com seis das dez parciais, e o americano Maurice Greene, com três, dominam essa prova perfeita. Tempo final: 9s37, ou seja, 21 centésimos abaixo do recorde atual. Uma marca que, convenhamos, demorará para ser alcançada, se é que será algum dia.
E na natação, qual é o tempo limite nos 50m livre masculino? Será que os nadadores demorarão a chegar no recorde mundial de 20s91 de Cesar Cielo, obtido em 2009 com um traje tecnológico, hoje proibido? Difícil dizer.
Mas podemos fazer uma estimativa como a que foi feita nos 100 metros rasos. Podemos calcular a marca de um homem que nadasse a prova perfeita, combinando as melhores performances de diferentes nadadores de acordo com os trechos da prova. O melhor tempo de reação na largada, a melhor fase submersa, a melhor aceleração, a melhor chegada…
O Mundial de Barcelona testemunhou aquela que talvez foi a prova de 50m livre mais forte da história. Todos os finalistas eram medalhistas olímpicos, com três deles (Cielo, o francês Florent Manaudou e o americano Anthony Ervin) campeões olímpicos da prova. O vencedor, Cielo, fez o melhor tempo da história sem trajes tecnológicos, com 21s32.
Mas a prova de Cielo não foi perfeita. Sua saída foi boa, mas a de Manaudou foi melhor. A transição da fase submersa para a primeira braçada, segundo ele mesmo, também poderia ter sido mais eficiente. Por isso há margem de melhora. E como. Podemos verificar isso através da combinação das melhores parciais em cada fase da prova, considerando somente os resultados das semifinais e final do Mundial de Barcelona, de acordo com análise biomecânica feita pela FINA. Seguem abaixo essas melhores marcas:
Reação ao sinal de partida: 0s58 – Vladimir Morozov (RUS), semifinal
Tempo nos 15m: 5s16 – Florent Manaudou (FRA) , semifinal, com 0s63 de reação
Tempo dos 15m aos 25m: 4s44 – Cesar Cielo (BRA), final
Tempo dos 25m aos 35m: 4s52 – Anthony Ervin (USA), semifinal
Tempo dos 35m aos 45m: 4s80 – Cesar Cielo (BRA), final
Tempo dos 45m aos 50m: 2s15 – Matt Abood (AUS), semifinal

Matt Abood (na foto, no Desafio Raia Rápida): melhor final de prova nos 50m livre no Mundial de Barcelona (foto: Satiro Sodré)
Combinando todas as melhores marcas, considerando 5s11 na marca dos 15 metros (os 5s16 de Manaudou menos 5 centésimos da melhor reação de Morozov), o tempo final desse super-homem hipotético seria 21s02.
Só como curiosidade, este é exatamente o tempo que Cielo fez nas eliminatórias do Open de 2009, ainda com traje, e que hoje é o terceiro melhor tempo da história da prova.
Para efeito de comparação, seguem as parciais de Cielo na final da prova no Mundial, cujo tempo final foi 21s32:
Reação ao sinal de partida: 0s63
Tempo nos 15m: 5s28
Tempo dos 15m aos 25m: 4s44
Tempo dos 25m aos 35m: 4s56
Tempo dos 35m aos 45m: 4s80
Tempo dos 45m aos 50m: 2s24
Claro que há margem de melhora para Cielo em determinados trechos, e ele sabe disso. Mas é difícil imaginar que um homem consiga ser o melhor em absolutamente todas as partes da prova. Assim como é inimaginável alguém correr os 100 metros em 9s37, também parece improvável que alguém nade 50 metros em 21s02 em nossa época. E mesmo que consiga, não bateria o recorde mundial (ficaria 11 centésimos acima). Provavelmente a marca de Cielo de 2009 ainda resistirá alguns bons anos.
Por Daniel Takata
Sobre o Autor
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.
Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.
Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.
Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.
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