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A maior nadadora da história? Entrevista exclusiva com Natalie Coughlin

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10/10/2013 05h00

A americana Natalie Coughlin já é uma lenda da natação. Há mais de dez anos na elite internacional, nenhuma mulher tem mais medalhas que ela na história da natação olímpica. Suas compatriotas Dara Torres e Jenny Thompson têm o mesmo número (12), mas elas jamais conquistaram ouros individuais. Natalie foi bicampeã nos 100m costas em 2004 e 2008.

Em Mundiais de Esportes Aquáticos, nenhuma outra mulher também tem mais pódios que ela: 19. No geral, ela só fica atrás de Michael Phelps (33) e Ryan Lochte (23).

Esses números podem ser aumentados, pois ela continua na ativa. Tanto que conquistou um ouro no Mundial de Barcelona, no revezamento 4x100m livre.

Uma das melhores nadadoras de costas da história (foi a primeira a abaixar do minuto, em 2002), também é muito versátil e tem medalhas em Olimpíadas e Mundiais também no livre. no borboleta e no medley.

Desde o fim do ano passado, vem deixando o costas um pouco de lado para se dedicar a provas de velocidade no nado livre, que agora são seu foco para a Olimpíada de 2016. Também trocou de treinador, apesar de continuar na piscina da Universidade da Califórnia, em Berkeley, com a equipe da Cal Aquatics. Tudo para dar continuidade às conquistas.

Durante o Mundial de Barcelona, Natalie concedeu uma entrevista exclusiva para a Swim Channel. Não deixem de ler. Afinal, por todo seu currículo, ela já pode ser considerada uma das maiores nadadoras da história. A maior do mundo da atualidade, Missy Franklin, a tem como maior heroína. Para ela e para muitos outros, Natalie Coughlin já é a maior de todos os tempos.

Swim Channel: Você agora tem 30 anos, e está mudando seu foco, do costas para o livre. Você também mudou de treinador (Teri McGeever para David Durden). Como está sendo essa transição?

Natalie Coughlin: A transição está sendo tranquila. Continuo no mesmo lugar, ainda estou na Cal, com a mesma equipe técnica, tenho até o mesmo armário. Apenas mudei de lado na piscina. O estilo de treinamento do Dave é bem diferente do da Teri, mas estou gostando. Adorava treinar com a Teri, mas fiquei com ela por 13 anos, e se eu quisesse melhorar, achei que tivesse que mudar alguma coisa. Treinar com o Dave é a mudança que eu precisava. Está sendo bem divertido para mim, pois treino com Nathan Adrian e Anthony Ervin. Eles são grandes velocistas e eles me puxam ainda mais, vendo como eles são rápidos e tentar ficar próxima a eles na medida do possível.

SC: E quais as diferenças de treinamento de quando você tinha 20 anos? Que cuidados você precisa tomar?

Natalie: Comparando quando eu tinha 20 anos, faço mais trabalho de força agora. Não preciso de muito tempo na água. Não preciso mais treinar, digamos, 7 mil metros por treino. Não é mais necessário nesse ponto da minha carreira. Entro na água mais vezes agora, mas por períodos mais curtos de tempo. Mas faço mais trabalho de força do que jamais fiz antes.

SC: Qual foi a melhor prova que você já nadou?

Natalie: Em toda minha vida?

SC: Sim.

Natalie: É difícil dizer qual é a melhor performance, pois não necessariamente as mais bem sucedidas são as melhores. Mas uma das minhas melhores provas, uma das que vêm imediatamente à minha cabeça pelo menos, foi provavelmente os 100m livre do Pan-Pacífico de 2002.

SC: Em que você fez 53s99?

Natalie: Sim, foi a primeira vez que nadei para 53s. Você lembra?

SC: Claro, foi espetacular! (nota: Natalie foi a terceira nadadora da história a completar os 100m livre abaixo de 54 segundos)

Natalie: Me senti tanto no controle daquela prova! Acho que foi o mais rápido que eu poderia ter nadado naquele dia. Claro que hoje posso nadar mais rápido, pois estou mais forte e com mais experiência, mas foi o mais rápido que poderia ter feito naquele dia. Me lembro de fazer a virada e as golfinhadas, olhar para as outras nadadoras e saber que eu iria dominar e controlar a prova.

Veja abaixo o vídeo da melhor prova da vida de Natalie Coughlin segundo ela própria. Ela está na raia quatro. Ao seu lado, a  super campeã Jenny Thompson e a australiana Jodie Henry, que seria uma das maiores estrelas da Olimpíada de 2004.


 

SC: Lembrando daquele Pan-Pacífico, você nadou (e venceu) os 100m livre, 100m borboleta e 100m costas. Também terminou aquele ano na liderança do ranking mundial dos 200m costas. Você iria nadar essas quatro provas, mais três revezamentos, no Mundial de Barcelona de 2003, com chances de vitória em todas, mas ficou doente durante a competição.

Natalie: Sim, eu estava inscrita em todas essas provas no Mundial de 2003. Seria uma espécie de teste para a Olimpíada de Atenas. Eu estava bem nervosa nos dias anteriores à competição. Mas acabei ficando doente e não nadei direito. Nadei até a final dos 100m borboleta, a eliminatória dos 100m costas e os dois revezamentos 4x100m. Foi uma competição bem difícil para mim.

SC: E como é voltar a Barcelona dez anos depois vencendo o 4x100m livre, justamente a única prova que venceu em 2003?

Natalie: É muito bom voltar a Barcelona e ter sucesso. Foi uma das competições mais difíceis da minha vida em 2003, e sem nenhuma dúvida a pior doença que já tive em toda a minha vida! Me lembro de nadar o 4x100m livre no primeiro dia, com uma febre terrível. Provavelmente eu deveria estar no hospital aquele dia! (risos) É bom estar de volta nadando bem. É como se fosse uma redenção. É muito louco o quanto que eu me lembro daquela competição. Tenho 30 anos agora, tinha 20 anos naquela época, mas me lembro com clareza, e é muito bom estar de volta a Barcelona e desta vez curtindo a competição.

Natalie Coughlin em Barcelona, após a vitória no 4x100m livre. À direita, sua pupila Missy Franklin (foto: Daniel Takata)

SC: A história poderia ter sido diferente em 2004, se você não tivesse ficado doente em 2003? Ou seja, talvez você tivesse nadado mais provas se o Mundial tivesse sido melhor para você.

Natalie: Na verdade, eu até queria ter nadado também os 200m livre em 2004.

SC: Mesmo? Você venceria a prova com o tempo que fez abrindo o 4x200m naquela Olimpíada.

Natalie: Sim, ao menos eu teria uma boa chance de medalha na prova individual. Mas eu sabia que, em Atenas, nossos revezamentos estariam bem fortes, então escolhi direcionar minha energia para os três revezamentos, os 100m livre e os 100m costas. Não queria abrir muito meu leque de provas e acabar me cansando muito em tantas provas. Se eu tivesse sido bem sucedida em Barcelona em 2003, talvez tivesse nadado mais provas em 2004, mas é muito difícil dizer.

SC: Você sempre foi muito versátil e se destacou em várias provas. Mas por que você nunca nadou os 200m livre em uma grande competição internacional?

Natalie: Porque para mim os 100m costas sempre foi a prioridade. E os 100m costas e os 200m livre sempre caem na mesma etapa, então é bem difícil. Em Londres, Missy Franklin conseguiu administrar muito bem, mas ela teve 12 minutos de intervalo entre as provas. Se fossem em dias diferentes, certamente eu teria nadado os 200m livre, mas para mim era bem difícil conciliar as duas provas sendo elas tão próximas.

SC: Você já esteve no Brasil para nadar a Copa do Mundo duas vezes, em 2005 e 2007.

Natalie: Sim, estive essas duas vezes no Brasil. Essas etapas foram em Belo Horizonte.

SC: Que boas memórias têm do Brasil? Já pensa na Olimpíada do Rio de Janeiro?

Natalie: Sim, com certeza. Nesse ponto da minha carreira, eu penso a cada quatro anos. E três anos passam num piscar de olhos. E eu realmente amo nadar, amo competir, e estou tentando algo novo. É empolgante, e quero continuar nesse caminho até a Olimpíada do Rio. Aproveitei muito minhas estadias no Brasil. Tenho um amigo, Henrique Barbosa, que treinou na Cal, e da última vez, a família dele me levou para jantar, me levou para um churrasco bem brasileiro… No Brasil as pessoas são sempre tão receptivas, é um lugar muito bonito e espero voltar em breve. Preciso melhorar meu português (risos). As únicas coisas que sei falar é "desculpe" e "obrigado"!

SC: Suas golfinhadas são espetaculares. Como trabalha esse fundamento? Como consegue ser tão boa?

Natalie: Acho que tem muito a ver com a força tanto na parte frontal quanto na parte de trás das pernas. Acho que a maioria das pessoas se concentram só na parte da frente e não prestam atenção na parte de trás. Ter uma boa flexibilidade nos tornozelos ajuda. Consigo esticar meu pé e apontá-lo totalmente para baixo, e muitas pessoas não conseguem fazer isso. E na verdade acho que porque tive muitas lesões nos ombros ao longo dos anos, fui forçada a trabalhar muito as pernas, e me ajudou muito com minhas pernadas. Nesse ponto, as lesões até trouxeram algum benefício, por terem feito eu trabalhar tanto minhas pernas.

SC: Você tem 12 medalhas olímpicas. Quando entra em uma grande competição, pensa nesses recordes? Tipo, "quero ganhar mais uma medalha para me tornar a mais condecorada da história."

Natalie: Eu adoraria conquistar mais uma medalha. No ano passado, muito se falou sobre eu me tornar a mais condecorada da história da natação feminina. Foi muita pressão, e eu tive um ano terrível. Acabei conseguindo ir para a Olimpíada e conquistei uma medalha, igualando o recorde. Ter tido um ano não tão bom meio que fez com que essa pressão fosse embora. É um objetivo meu, mas não é o foco principal. O foco é continuar melhorando e descobrir maneiras de melhorar, e o que vier junto acontecerá, se eu focar no que eu posso controlar.

SC: Obrigado Natalie!

Natalie: Obrigada! (em bom português)

Por Daniel Takata

Natalie Coughlin, Campeonato Mundial de Melbourne-2007 (foto: Ezra Shaw/Getty Images Sport)

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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