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Pelé x Phelps

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07/12/2013 05h00

Nos últimos tempos, parece que virou moda falar mal de Pelé. Seja porque ele, digamos, não dá as mesmas bolas dentro fora de campo do que em sua época de jogador, seja porque muitos vêem outros jogadores à sua frente em termos esportivos e futebolísticos (Maradona, Messi, Romário…).

A moda é tanta que alguns se aproveitaram de seu encontro com Michael Phelps esta semana em São Paulo, por ocasião da gravação de um comercial para a rede de fast food Subway, para diminui-lo frente às conquistas do americano. Dando a entender que os feitos do brasileiro ficaram em uma época tão distante que parecem desgastados. Quando se diz que brasileiro é um povo sem memória, é nessas horas que isso se justifica. Uma coisa é certa: não é preciso diminuir um para exaltar o outro. Pelé não merece isso, Phelps não precisa disso.

Pelé e Michael Phelps (foto: Getty Images)

Pelé e Michael Phelps (foto: Getty Images)

Mas a discussão de certa forma traz à tona uma comparação interessante. Estando ambos no topo de seus esportes, quem é melhor? Elencamos uma série de virtudes e conquistas e apontamos o melhor em cada critério. No final, o placar agregado indicando o vencedor.

Versatilidade

Pense no maior driblador do futebol mundial e logo se lembrará em Garrincha. O gênio tático? Cruyff. E o mais habilidoso? Maradona, que fazia misérias até com uma laranja. O chute mais potente? Talvez o húngaro Puskas. A seguir nessa toada, talvez o nome de Pelé nem seja mencionado. Mas alguém se lembra dos dribles de Cruyff, das bombas de Garrincha, das cabeçadas de Maradona? Esse era um dos segredos de Pelé. Driblava curto, tabelava, chutava forte ou colocado, de pé direito ou esquerdo, cabeçeava como ninguém. Até no gol chegou a jogar. É o mais versátil jogador de futebol da história. (texto adaptado da Revista Placar nº 1149, março/1999)

Assim como Phelps é o mais versátil nadador de todos os tempos. Pode-se argumentar, por exemplo, que Ian Thorpe foi melhor no livre e que Aaron Peirsol foi melhor no costas. Mas, na condição de melhor nadador de borboleta e medley da história, quase bateu recordes mundiais nos 100m e 200m costas e nadava em alto nível os 100m e 200m livre. Existiu algum nadador capaz de bater o recorde mundial em uma prova de resistência como os 400m medley e quase superar a marca mundial de uma prova de velocidade como os 100m livre abrindo o revezamento no dia seguinte, como ele fez em Pequim-2008? Somente Phelps era capaz dessas coisas.

Vencedor: empate

Pelé, na clássica foto em que o suor toma a forma de um coração (foto: Luiz Paulo Machado)

Pelé, na clássica foto em que o suor toma a forma de um coração (foto: Luiz Paulo Machado)

Conquistas

Pelé é o único tricampeão mundial de futebol por seleções. Como é o título mais importante almejado por um jogador, isso já o colocaria em um patamar superior. Foi duas vezes campeão mundial pelo Santos e tantas outras seria, caso os tempos não fossem outros e o time não tivesse abdicado de disputar algumas Taças Libertadores da América. Além de tudo, é o maior artilheiro do futebol mundial, com quase 1.300 gols. Mas Phelps tem 22 medalhas olímpicas. Simplesmente quatro à frente do vencedor mais próximo. Também é o nadador com mais recordes mundiais em todos os tempos, com mais títulos mundiais e com a melhor performance em uma Olimpíada (oito ouros em Pequim). Em três das quatro Olimpíadas que disputou, foi escolhido o melhor nadador. Pelé disputou quatro Copas do Mundo, mas somente em duas delas brilhou efetivamente (em 1962 se contundiu e em 1966 foi eliminado na primeira fase).

Vencedor: Phelps

Papel na equipe

Onze camisas brancas em onze corpos negros, era como o time do Santos era conhecido nos anos 60. Não era totalmente uma verdade, mas dá uma ideia da dimensão que Pelé tinha sobre seus companheiros. Era uma constelação de dez estrelas que girava em torno do Rei do Futebol. O Santos da época é tido por muitos como o maior time da história do futebol. Jogadores como Gylmar, Mauro, Lima, Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe eram foras de série. Mas, sem Pelé, provavelmente o time não teria alcançado metade dos títulos que conquistou. Phelps foi importantíssimo nas campanhas americanas em Olimpíadas e Mundiais nos últimos 10 anos. A hegemonia dos Estados Unidos encontrava-se a perigo quando a Austrália venceu o Mundial de 2001. Foi então que ele apareceu, com suas múltiplas medalhas devolvendo o posto de melhor natação do mundo ao seu país a partir de 2003, no primeiro Mundial que brilhou intensamente. Mas sua geração foi uma das melhores da história: Ryan Lochte, Natalie Coughlin, Aaron Peirsol, Dara Torres, todos entre os maiores medalhistas olímpicos de todos os tempos. Provavelmente a hegemonia americana teria sido retomada mesmo sem Phelps.

Vencedor: Pelé

Rivais

O fator que deu ponto para Pelé no critério anterior desta vez favorece Phelps. Ele foi contemporâneo de alguns dos maiores nadadores da história. Ryan Lochte sempre foi um rival duríssimo, Aaron Peirsol uma pedra no sapato no nado de costas. Além deles houve Ian Thorpe, Pieter van den Hoogenband, Cesar Cielo, Ian Crocker, Grant Hackett, quase todos no auge das carreiras. Em uma lista dos maiores da história, muitos deles estão perto do topo. Quanto a Pelé, entre jogadores escalados para uma hipotética seleção do mundo de todos os tempos, ele jogou nos tempos de Puskas, Di Stefano, Garrincha, Nilton Santos, Cruyff e Bekenbauer. Os dois primeiros, em fim de carreira. Os dois seguintes, companheiros de seleção. Cruyff começou a brilhar quando o brasileiro se aposentava. Pode-se dizer que a vida de Phelps foi um pouco mais difícil nesses termos.

Vencedor: Phelps

Michael Phelps e suas oito medalhas de ouro de Pequim-2008, na clássica capa da Revista Sports Illustrated (foto: divulgação)

Michael Phelps e suas oito medalhas de ouro de Pequim-2008, na clássica capa da Revista Sports Illustrated (foto: divulgação)

Legado

Phelps teve papel fundamental na popularização da natação. Em sua época de nadador, competição sem Phelps era uma coisa, com ele era totalmente diferente. Apesar de não ser o mais carismático dos nadadores, movimentou a natação como nunca jamais alguém fez. Na Olimpíada de 2008, foi basicamente por causa dele que as finais da natação foram realizadas no período da manhã em Pequim, para que suas provas fossem transmitidas pela televisão no horário nobre no Ocidente, principalmente nos Estados Unidos. E ainda recebeu um inédito prêmio de um milhão de dólares, oferecido pela Speedo caso conquistasse oito medalhas de ouro em uma Olimpíada. Mas Pelé é hors-concours. Seu status enquanto jogador era tão gigante que na Copa de 1970, a Puma e a Adidas fizeram o "Pacto Pelé": nenhuma das empresas tentaria contrato para vestir o Rei do Futebol, pois uma eventual disputa provocaria uma guerra de propostas à qual nenhuma das duas poderia sobreviver. A Puma acabou quebrando o acordo, mas só o fato deste existir já diz muita coisa. Certa vez, o Santos fez uma excursão para a África e uma guerra foi interrompida para que vissem Pelé jogar. Gostem ou não, o futebol é o esporte mais popular do planeta. A alegria gerada por um Pelé vencendo uma Copa do Mundo é muito maior que a conseguida por um Phelps batendo um recorde mundial em uma Olimpíada.

Vencedor: Pelé

Placar final: Pelé 2, Phelps 2, um empate.

Portanto, Phelps é o Pelé das piscinas ou Pelé é o Phelps do futebol? O que preferir. Tivemos o prazer de presenciar a carreira do maior nadador da história, e o esportista mais conhecido em todo o mundo é brasileiro. E há espaço suficiente no mundo para atletas de mesmo calibre.

Por Daniel Takata

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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