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Poliana Okimoto: para além da maratona aquática

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17/12/2013 22h53

Você sabe o que é um household name? É um termo comum nos Estados Unidos para designar certas personalidades. Basicamente, os household names são os artistas conhecidos pelo nome pelo grande público. Não é a moça da novela ou o namorado da Xuxa. É o Antônio Fagundes, a Fernanda Montenegro, o Reynaldo Gianecchini, a Juliana Paes.

No esporte, também temos os household names. Basicamente, são aqueles que não precisam de rótulos para que sejam reconhecidos. Cesar Cielo é um deles: todos o reconhecem em qualquer contexto. Um exemplo de um atleta que ainda não conquistou tal status é Bruno Fratus. Nadador fantástico, infelizmente seu nome precisa vir acompanhado de "vice-campeão pan-americano e quarto colocado na Olimpíada" para ter a atenção que merece. Afinal, no chamado esporte olímpico brasileiro, via de regra, um atleta se torna um household name quando conquista uma medalha olímpica. De preferência de ouro. Assim foi com Cielo, Maurren Maggi, Arthur Zanetti, Robert Scheidt, entre outros. Mesmo os que acompanham o esporte de forma bissexta sabem quem são.

Claro, há as exceções. Um atleta como Gustavo Kuerten não precisou de uma medalha olímpica para ser reconhecido pelo grande público. Assim como Oscar Schmidt, ídolo mesmo anos após a aposentadoria. Fabiana Murer, sem pódio olímpico, mas com um ouro mundial no salto com vara na bagagem, também pode ser enquadrada aqui.

E a partir de agora, encaixa-se nessa categoria Poliana Okimoto. Após a conquista do Prêmio Brasil Olímpico feminino como melhor atleta de 2013, cuja cerimônia ocorreu hoje em São Paulo, ela encerra de maneira consagradora um ano perfeito. Em 2009, ela também chegou entre as três finalistas, na condição de campeã da Copa do Mundo e de medalhista de bronze no Mundial de Roma. E era a favorita. Mas em uma decisão polêmica, o prêmio foi concedido a judoca Sarah Menezes, então campeã mundial junior, após uma votação totalmente baseada em votação popular.

Poliana Okimoto no Prêmio Brasil Olímpico (foto: Satiro Sodré)

Poliana Okimoto no Prêmio Brasil Olímpico (foto: Satiro Sodré)

Podemos falar durante muito tempo sobre suas conquistas: três medalhas no Mundial de Barcelona, sendo um ouro na prova olímpica de 10 km com dobradinha com Ana Marcela Cunha; duas vitórias nas últimas etapas da Copa do Mundo da FINA, sendo a última com uma vantagem de 10 segundos, inimaginável em provas de alto nível internacional; o recorde brasileiro nos 1500m livre que já durava 12 anos… E isso após passar por uma grande frustração ao abandonar a prova olímpica em Londres, um ano antes.

Mas, para que tenhamos uma noção de como ser um atleta desse nível é matar um leão por dia, não precisamos voltar um ano no tempo, nem sequer um mês: apenas descrever o que ela passou na última semana já nos dá ideia do turbilhão pelo qual uma atleta como ela precisa passar rotineiramente. Olhando de fora, foram dias perfeitos para coroar um ano perfeito: a vitória no Rei e Rainha do Mar frente a uma audiência global de milhões de telespectadores e a consagração no Prêmio Brasil Olímpico.

Na verdade, ela e seu técnico e marido, Ricardo Cintra, encararam uma faca de dois gumes. Era o final de um ano desgastante e sua performance em uma prova diferente, de curta distância e com corrida na areia, o que nunca foi seu forte, era uma incógnita. Na definição do grid de largada, na quinta-feira, sua prova foi irregular. Nenhuma surpresa após um ano cansativo. Mas como reagiria seu corpo no domingo, na definição do Rei e da Rainha do Mar? Poliana e Ricardo estavam preocupados. Chegar atrás de uma dupla estrangeira, com transmissão ao vivo pela Rede Globo, poderia ter outras consequências além da simples perda do troféu.

Na reta final da votação popular do Prêmio Brasil Olímpico, volúvel como o público é, uma derrota àquela altura poderia fazer seu conceito cair frente a outra favorita, a judoca Rafaela Silva. Que foi campeã mundial este ano lutando no Brasil e portanto de grande apelo popular. Perder o prêmio para ela não seria surpresa.

Sem o troféu de Rainha do Mar, sem o Prêmio Brasil Olímpico. Uma antítese ao que havia conquistado nos meses anteriores. Só que era um cenário possível para esse fim de ano.

Mas acontece que estamos falando de uma campeã mundial. E esse tipo de desafio jamais causou medo. Pelo contrário, só trouxe motivação. Como já sabemos, Poliana, em dupla com Samuel de Bona, deu show em Copacabana e emocionou quem ligou a televisão no domingo. Se isso alavancou seus votos para o Prêmio Brasil Olímpico, é difícil dizer. Mas, no final das contas, mais uma vez, todos os objetivos eram superados.

Poliana Okimoto e Samuel de Bona: Rainha e Rei do Mar (foto: Satiro Sodré)

Poliana Okimoto e Samuel de Bona: Rainha e Rei do Mar (foto: Satiro Sodré)

Cesar Cielo, favorito ao lado do ginasta Arthur Zanetti, foi superado pela surpresa Jorge Zarif, do iatismo. O nadador buscava a quarta conquista (foi premiado em 2008, 2009 e 2011).

Cielo sim, sem dúvida, é um household name do esporte brasileiro. Com o prêmio de hoje e com o ano que teve, Poliana, se ainda não chega no mesmo patamar, afinal um ouro olímpico está acima de tudo, certamente se torna um nome que transcende as barreiras da maratona aquática. E não precisa mais que seu nome seja acompanhado de adjetivos como "campeã mundial" ou "vencedora do Prêmio Brasil Olímpico" para que seja reconhecido. Agora, é só Poliana Okimoto. Que, em um mesmo ano, foi escolhida a melhor atleta do Brasil e a melhor do mundo em sua modalidade (pela revista Swimming World e pela FINA, que anunciará o resultado em janeiro, mas sua vitória é barbada), algo que nem Cielo conseguiu.

Quando acordar no dia 1º de janeiro de 2014, talvez Poliana Okimoto se belisque e pergunte a Ricardo Cintra se 2013 não passou de um sonho. Quando virem os troféus na estante, entre eles o Prêmio Brasil Olímpico, perceberão que tudo foi real. E então tudo começará novamente. Prontos para continuarem matando um leão por dia.

Por Daniel Takata

Poliana Okimoto (foto: Sergio Moraes)

Poliana Okimoto (foto: Sergio Moraes)

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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