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Polimento duplo: o desafio dos nadadores americanos

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23/06/2013 23h27

No texto que publicamos sobre a americana Natalie Coughlin há alguns dias (clique aqui para ler), citamos que ela fez o melhor tempo de sua vida este ano nos 50m livre "sem estar polida". Faltou somente explicar o que quer dizer o termo "polido", conforme atentou o leitor gluk em seu comentário.

O termo é muito comum para quem está envolvido com a natação competitiva, mas pode parecer estranho para outras pessoas. Até por sua natureza, que aparentemente não tem nada a ver com esporte. O que acontece é que a natação é um esporte de sobrecarga. Os nadadores treinam pesado durante meses. Nessas épocas, sentem dores, os músculos ficam cansados. Por isso, dificilmente conseguem suas melhores marcas. Para que isso aconteça, eles devem ter um período de treinos mais leves, antes da competição principal, para que seus corpos não sofram com o desgaste acumulado. Esse período é chamado de polimento.

A intensidade dos treinos e a duração do polimento varia de nadador para nadador e depende muito de suas principais provas. É um período importantíssimo, pois, caso o polimento seja muito curto, pode não ser suficiente para que o atleta supere o cansaço das etapas anteriores, e se for muito longo, há o risco do nadador perder o preparo que conseguiu com os treinos fortes. É o que se chama de errar o polimento.

Por isso, nadadores realizam poucos polimentos durante o ano. Basicamente, são escolhidas algumas competições principais, os treinos são voltados para elas e os polimentos realizados somente antes destas. Muitos polimentos fazem com que haja menos treinos fortes, e portanto menos possibilidade de se adquirir preparo e resistência.

Esta semana, na terça-feira (25 de junho), terá início o Campeonato Americano, que é seletiva para o Campeonato Mundial de Barcelona. A regra é basicamente essa: para o Mundial, serão selecionados os dois primeiros colocados de cada prova na seletiva. Estes nadadores estarão a um mês do Mundial. E, em um campeonato como o americano, com muitos dos melhores nadadores do mundo, os atletas precisam estar no melhor de suas formas para garantir vaga entre os primeiros colocados. Ou seja, deverão ter realizado o devido polimento. O problema é que, depois de menos de um mês, terão que realizar outro. E pode ser muito difícil conciliar dois polimentos em tão pouco tempo. Isso sempre acontece nos Estados Unidos. E, como se vê, os resultados são satisfatórios, pois sempre conseguem sair de Olimpíadas e Mundiais como o país mais forte da natação mundial.

A canadense Julia Wilkinson (acima)

Julia Wilkinson, nadadora canadense finalista olímpica, viveu na pele essa experiência, pois treinou durante muito tempo dos Estados Unidos. Ela escreveu para o site da revista Swimming World como os americanos conseguem administrar tão bem o chamado "double-taper" (polimento duplo).

O polimento é a época favorita do ano para os nadadores. É como se fosse o Natal para uma criança. Ou para qualquer um que como eu ainda fica extremamente empolgado com o Natal!

Provavelmente ninguém está mais pronto para um bom polimento que os nadadores americanos. A maioria dos países já selecionou suas equipes para o Mundial de Barcelona, mas os Estados Unidos como sempre são os últimos, o que faz sentido se considerarmos o número de grandes nadadores que eles têm a oferecer. Em um país menor como o Canadá, o melhor nadador de uma prova provavelmente será o mesmo em março ou em junho. Mas para os americanos, com tantos nadadores que podem chegar ao pódio em Barcelona, é interessante para eles selecionarem os nadadores que sejam os melhores nos momentos próximos da competição (pois em alguns meses tudo pode mudar). Essa estratégia, no entanto, produz um fator extra que outros nadadores não precisam encarar: o polimento duplo.

Duvido que nadadores como Ryan Lochte e Missy Franklin continuarão a treinar pesado, sem polimento adequado, e passarão direto pelo Campeonato Americano para se prepararem para o Mundial. Se eles fizerem isso e não nadarem na melhor forma, certamente correrão o risco de ficarem sem vagas para Barcelona. Então como se faz um polimento em seguida do outro em tão pouco tempo? Quais são as chaves para fazer isso da melhor forma possível?

Em 2008, nadei a Seletiva Olímpica Canadense semanas após o NCAA (Campeonato Universitário Americano) e fui muito bem nas duas competições, mas não por um golpe de sorte. Tudo foi cuidadosamente planejado com meu téncico, Steve Butman. Butman colocou duas calouras no time olímpico americano em Londres: Cammile Adams (200m borboleta) e Breeja Larson (100m peito). Elas tiveram grandes performances tanto na Seletiva Olímpica, três semanas antes dos Jogos, e em Londres. Qual é então a estratégia de Butman?

Para ele, a estratégia difere de nadador para nadador. Há muitos fatores envolvidos na preparação para a seletiva para o Munddial. "Depende do nadador. Alguns não precisam fazer um polimento completo porque eles são muito bons. Outros terão que estar completamente polidos para ter uma chance de ser selecionados", diz Butman.

Também há diferenças de prova para prova. "É mais fácil para um velocista manter o polimento em um mês. Um nadador de provas de fundo terá que imediatamente retornar aos treinos fortes após a Seletiva e então fazer um segundo polimento antes do Mundial."

Butman acredita que um erro dos nadadores é focar totalmente no resultado da competição ao invés do processo. Quando se trata de planejar os treinamentos em direção à Seletiva e ao Mundial, o sucesso será decorrente do trabalho físico, mas, mais importante, do preparo mental. "Um nadador precisa estar pronto mentalmente não apenas para o que ele precisa fazer para ser selecionado, mas o que fazer após isso."

Se o nadador concorda ou não com a seletiva ser tão próxima do Mundial, isso está fora de questão. Não há como mudar. O importante é saber que você deve estar sempre preparado para nadar rápido em qualquer situação, seja após seu primeiro polimento em junho ou após o segundo um mês depois. Afinal de contas, todos os nadadores que querem uma vaga no time dos Estados Unidos estarão no mesmo barco, e muitos têm sido muito bem sucedidos com esse tipo de calendário. A chave é estar bem preparado, não apenas fisicamente, mas também mentalmente. (Por Julia Wilkinson)

Por Daniel Takata

 

Sobre o Autor

Daniel Takata
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.

Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.

Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.

Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.

Sobre o Blog

A Swim Channel é uma editora formada por nadadores que escreve exclusivamente sobre natação sendo eleita a melhor revista do segmento no mundo inteiro no ano de 2012. Através deste Blog, consegue fomentar noticias diárias aumentando o alcance do conteúdo editorial. Acompanhe entrevistas com atletas e personalidades, cobertura dos principais eventos, análises das diversas áreas relacionadas a nossa modalidade.

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