A maior surpresa da natação olímpica?
Jogos Olímpicos são pródigos em oferecer resultados surpeeendentes. Quem esquece a reação de espanto de Chad Le Clos ao bater Michael Phelps em 2012? Ou do aparecimento da então desconhecida Ruta Meilutyte na mesma Olimpíada?
Mas dificilmente lembraremos de uma surpresa tão grande quanto a que ocorreu nos 200m borboleta feminino da Olimpíada de Sydney, em 2000. Seja pelo favoritismo absoluto e esmagador de uma nadadora, seja pela aparente falta de chances de outra.
A favorita chamava-se Susan O'Neill. Nadadora experiente e consagrada, a australiana já era a detentora do título olímpico da prova. Em Sydney, já havia vencido os 200m livre, uma prova em que tinha menos chances. Era uma heroína nacional e contava com a torcida a seu favor.
Mas, mais importante que tudo isso, ela estava no auge da carreira. Na seletiva olímpica, realizada alguns meses antes, conseguiu um resultado que perseguia havia muito tempo: o recorde mundial da prova, o mais antigo individual da época, que durou 19 anos, da lenda americana Mary T. Meagher (saiba mais sobre esse recorde aqui). Seu tempo: 2min05s81.
A Austrália não esperava nada menos que a medalha de ouro com recorde mundial, e de quebra a dobradinha, pois Petria Thomas era a favorita para a prata.
Do outro lado, estava a americana Misty Hyman. Nadadora de nível mundial pelo menos desde 1995, era adepta das longas ondulações submersas após saídas e viradas – chegava a ficar por mais de 30 metros embaixo d'água. Por isso, teve que adaptar seu nado quando, em 1997, a FINA estipulou o limite de 15 metros. Seu maior feito havia sido o bronze no Mundial de 1998 nos 200m borboleta e o ouro nos 100m costas no Mundial de curta de 1995, no Rio de Janeiro. Seu melhor tempo nos 200m borboleta antes daquela Olimpíada: 2min09s08, de 1997.
Esse tempo, por si só, seria insuficiente para ela sonhar com medalha Sydney. Por ter sido feito três anos antes, suas chances eram ainda menores.
Em Sydney, no entanto, mostrou estar na melhor forma de sua vida. Na eliminatória, fez 2min07s87, seu melhor tempo em mais de um segundo. Na semifinal, piorou um décimo e se classificou na quarta posição. Parecia evidente para muitos que ela já estava dando tudo de si. Enquanto O'Neill, nadando quase dois segundos acima de seu melhor, e mesmo assim se classificando na primeira posição, se poupava para a grande final.
Na final, Hyman, como de costume, passou forte. E o costume era morrer nos últimos 50 metros. Justamente o forte de O'Neill. Por isso, a torcida australiana achou que o script estava sendo seguido sem percalços.
Somente faltando 15 metros que a ficha caiu. Hyman não morreria. O'Neill não melhoraria seu tempo. E, mais importante, também não conquistaria o ouro.
Misty Hyman, com 2min05s88, bateu o recorde olímpico e melhorou mais de três segundos sua melhor marca de antes da Olimpíada, que não melhorava havia três anos.
Imagens valem mais que palavras, principalmente nesse caso. Acompanhem a prova no vídeo abaixo e reparem na reação da americana após a vitória. Ela precisou olhar três vezes para o placar para se certificar do resultado, e incrédula gritou "oh my God!" pelo menos onze vezes. Palavras ouvidas por todo o centro aquático, pelo silêncio que fazia a torcida australiana. Um silêncio ensurdecedor para Susan O'Neill.
Se existe uma ocasião na natação que remeta a um Maracanazzo (derrota do Brasil para o Uruguai no Maracanã na final da Copa do Mundo de 1950), aquele 200m borboleta feminino é forte candidato.
Por Daniel Takata
Sobre o Autor
Redator da Revista Swim Channel. Tem colaborado com os principais veículos impressos e eletrônicos sobre natação e vem comentando competições no SporTV.
Guilherme Freitas
Jornalista da Revista Swim Channel e correspondente internacional de imprensa da FINA (Federação internacional de Natação), formado pela FMU e pós-graduado em Globalização pela Escola de Sociologia e Política.
Patrick Winkler
Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.
Mayra Siqueira
Repórter da Revista Swim Channel e jornalista esportiva da Rádio CBN. É correspondente da FINA (Federação internacional de Natação) no Brasil e é colunista de natação para o Blog Esporte Fino, da Carta Capital.
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